A OpenAI, empresa de desenvolvimento de inteligência artificial responsável pelo ChatGPT, inaugurou suas atividades no mercado da América Latina com a contratação de um lobista. Nicolas Robinson Andrade, que assume o cargo de líder de políticas públicas para América Latina, será o primeiro funcionário da OpenAI na região.
Fundada em 2015 por Elon Musk (que deixou a companhia em 2018) e Sam Altman, a OpenAI também é responsável pelo DALL-E 2, sistema de IA que produz imagens e artes a partir de uma descrição. Com a explosão da inteligência artificial generativa capitaneada pelo ChatGPT nos últimos dois anos, a startup apoiada pela Microsoft está perto de US$ 1 bilhão em vendas anuais.
Agora, a contratação do profissional por aqui sugere a estratégia da OpenAI em enfrentar os desafios regulatórios iminentes. A decisão de expandir suas operações no continente surge em meio às crescentes discussões sobre um projeto de lei de regulação da inteligência artificial no Brasil, o maior país da América Latina.
O Senado planeja votar até abril uma legislação específica para o setor, com o Projeto de Lei 2.338/2023, proposto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que busca criar um marco legal para a inteligência artificial. O projeto impõe uma série de regras para empresas garantirem a implementação de sistemas seguros e confiáveis, diminuindo riscos como discriminação.
Há dois anos, a tropa de choque montada por big techs no Congresso conseguiu sair na frente na corrida da regulação de inteligência artificial, apresentando um projeto 'principiológico' – em outras palavras, permissivo e leniente com as empresas, segundo especialistas. Uma comissão de especialistas foi escalada para discutir o tema, o que gerou um extenso relatório que serviu de base para o texto de Pacheco. Na paralela, uma comissão temporária foi montada no Senado para discutir o tema.
Fontes engajadas na discussão relataram ao Intercept que empresas do setor não gostaram do texto de Pacheco, e articularam a criação da nova comissão para rediscutir o texto com relatoria do senador Eduardo Gomes, do PL de Tocantins. O grupo de senadores promoveu 10 audiências públicas com especialistas ao longo do ano passado – o relatório deve ser apresentado em breve.
A expectativa é que o marco regulatório seja votado pelo Senado neste primeiro semestre. O PL foi citado por Pacheco como uma das prioridades da Casa no primeiro semestre, em sua entrevista coletiva concedida no ano, na última quarta-feira.
Foi nesse contexto que a OpenAI resolveu fincar os pés por aqui, com um profissional com extenso currículo na área de políticas públicas. Nicolas Robinson Andrade foi gerente de políticas públicas do Facebook de novembro de 2016 a janeiro de 2021. Logo em seguida, assumiu o cargo de diretor na mesma área do Zoom, aplicativo de videoconferências, no auge da pandemia, entre janeiro de 2021 a janeiro de 2024.
A chegada de Andrade também ocorre em um momento delicado para a empresa no seu país natal, os Estados Unidos, onde enfrenta um processo movido pelo jornal The New York Times. A ação judicial alega violação de direitos autorais no treinamento de modelos de inteligência artificial com conteúdo do jornal, prática que a OpenAI cita como "uso justo".
Por aqui, entidades de autores e defesa de direitos autorais também já têm se articulado para discutir possíveis restrições – ou remuneração – no uso de obras protegidas para treinamento de inteligência artificial.
Em sua mensagem de boas-vindas publicada na rede social profissional LinkedIn, Andrade se mostrou entusiasmado: "Muito honrado de começar uma nova etapa liderando políticas públicas para OpenAI na América Latina. Como o primeiro funcionário da empresa na região, adoraria saber nos comentários sobre experiências e casos de uso interessantes do ChatGPT que você ou seus conhecidos tenham tido!". Vai ter bastante trabalho por aqui.