Marcelo Copelli
Enquanto grande parte da população na noite deste domingo, dia 24, véspera do Natal, não terá condições de preparar uma ceia ou mesmo ter algo a mais em suas mesas, servidores e magistrados do Poder Judiciário do Mato Grosso já tiveram garantidas todas as regalias e farturas para a data.
Ainda que uma coisa não esteja necessariamente relacionada ou contradiga legalmente a outra, moralmente beira ao desbunde a continuidade dos benefícios concedidos somente a um dos pratos da balança no qual reside uma parcela abonada e sempre prestigiada.
AUXÍLIO – A presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), desembargadora Clarice Claudino, anunciou, pasmem, a concessão de um auxílio-alimentação extraordinário no valor de R$ 6,9 mil para servidores e magistrados da Corte, exclusivamente para o mês de dezembro de 2023. A medida foi formalizada por meio de um ato publicado onde fica estabelecido que o benefício será aplicado de forma excepcional neste mês específico.
O valor significativo e muito acima do salário de milhares de brasileiros e brasileiras, “visa contemplar os beneficiários neste período festivo”. No documento, a desembargadora destaca: “Fixar, de modo excepcional e exclusivamente para o mês de dezembro/2023, o valor de auxílio-alimentação pago às servidoras, aos servidores, às magistradas e aos magistrados ativos do Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso, no valor de R$ 6.900”.
A publicação destaca que, a partir do próximo mês, o auxílio-alimentação será ajustado para o valor de R$ 1,9 mil. Segundo a decisão, a intenção é garantir uma transição para um patamar mais estável, mantendo a preocupação com o bem-estar dos servidores e magistrados. Para muitos, o privilégio não pode ser alvo de críticas em face das inúmeras demandas sem atendimento pela sociedade.
CONTRADIÇÃO – Mas, convenhamos, com os diferenciados salários que os membros da Corte e os servidores do Tribunal recebem, o auxílio extra não reflete uma séria contradição ? De acordo com os últimos dados disponibilizados pela Justiça do Mato Grosso, o Tribunal contava com 275 magistrados e 4,5 mil servidores em 2021. Considerando esses números, a despesa com o auxílio-alimentação especial de dezembro pode chegar a R$ 32 milhões.
Esse é apenas um exemplo do fluxo contraditório visto, sob lágrimas, por uma enorme parcela da sociedade brasileira para a qual falta não só alimentação no dia a dia, mas também empregos dignos, saúde, educação, moradia, segurança e por aí vai.
Entre ajustes e barganhas políticas, entre benesses “legais” aos membros do reino, negociatas e articulações em prol dos donos das novas capitanias hereditárias, resta à população somente a esperança de poder ter garantida, não somente na noite de Natal, mas em todos os dias do ano, a alimentação e o direito à vida digna. Que os bons ventos do próximo ano venham carregados de mudanças para todos e não somente para as altas castas.