Publicado em 5 de novembro de 2023 por Tribuna da Internet
Bernardo Mello
O Globo
Embora o governo Lula esteja atuando para apaziguar a rivalidade entre os dois, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB) já preparam uma série de embates pela conquista de prefeituras no ano que vem em Alagoas. Interlocutores de ambos os lados avaliam que o clima, após a intervenção do Palácio do Planalto, melhorou, mas que a tendência é de recrudescimento à medida que as eleições se aproximem.
Lira e Renan vislumbram concorrer ao Senado em 2026, e aliados consideram que a base de prefeitos será fator-chave na empreitada.
DIVIDINDO PALANQUES – Na última segunda-feira, em evento de lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Alagoas, Lira fez questão de dividir palanque com o governador Paulo Dantas e com o ministro dos Transportes, Renan Filho, ambos do MDB.
E disse que tem se colocado à disposição para trabalhar com os adversários desde o fim da eleição. No ano passado, enquanto o presidente da Câmara fez campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador estimulou o apoio do MDB a Lula já no primeiro turno.
— Eu era muito perguntado: “Você vai ao evento (do PAC)?”. O (ex-) governador Renan Filho deve ter ouvido isso também. Ninguém sai sem um pedaço arranhado daqui. O recado é claro: eu olho para frente, adiante — discursou Lira.
DEPOIS DE FUFUCA – O presidente da Câmara acenou com a trégua a Renan após a nomeação do aliado André Fufuca (PP-MA) como ministro do Esporte, há dois meses, o que marcou a entrada de seu bloco, o Centrão, no governo Lula. A presença de Lira no lançamento do PAC, segundo aliados, foi pedida pelo próprio presidente Lula, que vê o apaziguamento com Renan como importante para navegar em águas mais tranquilas no Congresso.
Duas ausências no palanque, porém, expuseram as ressalvas do grupo dos Calheiros com a aproximação: a do próprio Renan e a do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor (MDB).
Victor foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) às vésperas da eleição de 2022, por suspeita de compra de votos — o que ele nega —, e afirmou à época ter identificado as digitais de Lira no caso. Ao Globo, o deputado minimizou sua ausência no evento do PAC e disse que tinha outra agenda marcada anteriormente, mas que o cenário local está “sem estresse”.
DISCURSO MODULADO – Outros correligionários de Renan Calheiros modularam o discurso para evitar ataques ao presidente da Câmara. Um parlamentar do MDB, questionado pela reportagem sobre a relação com Lira, pediu alguns segundos para refletir: “Deixa eu ver o que posso achar do Arthur agora”.
Dois integrantes do partido de Lira, por sua vez, afirmam que a trégua do presidente da Câmara com Renan faz parte de um esforço de governabilidade junto ao Palácio do Planalto. E reconhecem a possibilidade, embora remota, de um alinhamento informal entre PP e MDB em 2026, quando duas cadeiras ao Senado estarão em jogo.
A preparação de Lira e Renan para a próxima disputa nas urnas, porém, já vem ganhando ares de guerra antecipada em 2024. Aliados do presidente da Câmara consideram que a eleição de Renan Filho ao Senado, no ano passado, foi influenciada decisivamente pelo apoio da maioria dos prefeitos alagoanos ao MDB, e por isso buscam expandir sua capilaridade.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não haverá acordo entre Renan e Lira. O que pode acontecer é uma convivência temporária, apenas isso. (C.N.)