Publicado em 22 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet
Marcus André Melo
Folha
A eleição presidencial argentina aponta para uma provável derrota do governo e vitória de um outsider no segundo turno. Em um quadro de gravíssimo surto inflacionário, o candidato governista é o ministro da economia. Pepe Mujica, ex-presidente uruguaio, reagiu: “Uma coisa dessas só se explica por uma mitologia, o peronismo, porque a Argentina é indecifrável”.
A eleição é marcada pela expectativa de uma espetacular crise financeira na esteira de um processo de erosão institucional de longa duração. E sim, o peronismo é indissociável dela. Como mostrei aqui na coluna.
RISCO DO GOVERNO – Mas a esperada derrota é também consistente com o padrão observado na América Latina. O “risco” de ser governo aumentou na região. De 2015 a 2023, a oposição ganhou 79,3% dos pleitos; de 2003 a 2014, vencera apenas 44% deles, segundo Gerardo Munck.
Um viés pró-incumbente é o esperado. Governantes abusam da máquina de governo nas eleições. O boom de commodities e a Covid (e a inflação global atual) alteraram o padrão: beneficiando e punindo incumbentes, respectivamente.
FRACASSO DA OPOSIÇÃO – A colossal frustração coletiva que gerou Javier Milei veio após o fracasso da oposição (Macri 2015-2019) em restaurar alguma governabilidade fiscal após o radicalismo entrar em ruína e o kirchnerismo ter se tornado hegemônico (2003-2014). Mas o problema é anterior.
Nas primárias, Milei quebrou o controle do peronismo sobre as províncias do interior. Aqui há um padrão global: líderes populistas radicais têm apoio localizado fora das grandes áreas metropolitanas. Milei também concentra votos maciçamente no eleitorado jovem masculino. Simbolicamente é o futuro; o peronismo, o passado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É cedo para contar vitória, porque as pesquisas indicam segundo turno, com maiores possibilidades para Milei. Mas a diferença é pequena (entre 1% a 3%) e o governista Sérgio Massa pode surpreender na reta final. (C.N.)