Publicado em 30 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet
Vera Rosa
Estadão
Os marqueteiros ligados ao PT que trabalham na campanha de Sergio Massa à Casa Rosada tentarão resgatar a autoestima da sociedade e o sentimento de unidade nacional, neste segundo turno da eleição, com uma frente ampla para enfrentar a crise. A estratégia de forte tom emocional também foi usada na propaganda de Luiz Inácio Lula da Silva contra Jair Bolsonaro, no ano passado.
O programa de Massa, candidato da coligação Unión por la Patria, será agora inspirado no mote “Argentina Si”. O slogan apareceu no fundo do palco de um centro cultural em Buenos Aires, onde no domingo, 22, ele agradeceu os eleitores pela surpreendente vitória sobre o adversário Javier Milei na primeira rodada da disputa.
SALVE-SE QUEM PUDER – O discurso do ministro da Economia de um país à beira do colapso financeiro deu ali as pistas do que será a âncora da segunda etapa de sua corrida rumo à Presidência da Argentina. Ao dizer estar convencido de que “esse não é um país de merda como têm dito”, mas, sim, “um grande país”, Massa expôs uma das principais linhas de sua campanha: explorar a “argentinidade” e o orgulho portenho.
A ideia dos marqueteiros brasileiros Raul Rabelo, Otávio Antunes e Halley Arrais é mostrar que uma eventual gestão do ulltraliberal Milei, deputado conhecido como “El Loco”, representará um verdadeiro “salve-se quem puder”.
Rabelo participou da campanha de Lula no ano passado, ao lado de Sidonio Palmeira; Antunes assinou programas de Fernando Haddad na disputa presidencial de 2018 e na corrida ao governo de São Paulo, em 2022. Arrais, por sua vez, já passou pelos comitês de Haddad, Dilma Rousseff e outros petistas.
DOSES DE PÂNICO – Agora, a propaganda de Massa vai injetar novas doses de pânico nos eleitores para explorar como será a Argentina de Milei, caso o candidato de La Libertad Avanza – que prega dolarização da economia, fim do Banco Central e saída do Mercosul – vença as eleições, em 19 de novembro.
Na TV, o país de Milei exibido pela campanha peronista não terá mais bônus para desempregados e trabalhadores informais nem subsídios para transporte e energia elétrica. Muito menos vouchers para crianças irem à escola. A Argentina da propaganda de Massa, na outra ponta, será o país que olha para todos e não deixa ninguém para trás.
O rosto de um ministro da Economia sorridente continuará aparecendo dentro do coração vermelho com o apelo “Votá con amor”. Em 2022, a campanha de Lula também trazia o pedido “Vote com Amor”, para divulgação em redes sociais, uma nova versão do “Lulinha paz e amor” de 2002.
APOIOS E ADESÕES – Massa não terá o apoio de Patricia Bullrich, a ex-ministra de Segurança da gestão de Maurício Macri que ficou em terceiro lugar no embate e vem sendo cortejada por Milei para compor seu eventual governo. Empenhado em disputar os votos dos eleitores de Bullrich, no entanto, Massa procura atrair o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta.
Em agosto, Bullrich derrotou Larreta nas primárias para a escolha de quem concorreria pela coligação Juntos por el Cambio. Houve um racha na centro-direita e é justamente essa fatia que Massa tenta conquistar ao apelar por uma frente ampla em torno de sua candidatura.
Foi também com uma convocação pela unidade nacional contra o autoritarismo que Lula conseguiu derrotar Bolsonaro, então candidato à reeleição, e chegar pela terceira vez ao Palácio do Planalto.
SEM APOIO FORMAL – No ano passado, porém, Lula era desafiante de um presidente que protagonizava articulações antidemocráticas, era contra a vacina e defendia a ditadura militar. Massa, por sua vez, enfrenta todo o desgaste de comandar a economia de um país com inflação de 138% ao ano, pobreza atingindo 40% da população e violência nas ruas.
Apesar de apoiar Massa e ter feito gestões para ajudar a Argentina, terceiro parceiro comercial do Brasil, Lula não planeja aparecer na campanha do aliado. No Planalto, a avaliação é a de que essa iniciativa não seria conveniente do ponto de vista político, mesmo porque, se o ministro perder, o presidente será associado a uma derrota. Fora do poder, Bolsonaro já gravou mensagem para Milei.
“Lula foi essencial na definição do resultado do primeiro turno das eleições argentinas”, disse o deputado Zeca Dirceu, líder da bancada do PT na Câmara.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se Massa segurar a onda e conseguir vencer, será em função do apoio de Lula, fundamental para liderar o primeiro turno com folga e chegar confiante à reta final. Quanto à crise econômica da Argentina, realmente é um fenômeno espantoso, a ser estudado, pois se trata de um país altamente viável. (C.N.)