Publicado em 19 de setembro de 2023 por Tribuna da Internet
Alvaro Costa e Silva
Folha
A confiança nas Forças Armadas despencou, revela a pesquisa “A Cara da Democracia”. Hoje só 20% dizem “confiar muito” nos militares, contra 27% do levantamento anterior, em setembro de 2022. Para a queda competem duas turmas descontentes. Os bolsonaristas sentem-se traídos pelos “melancias” que não deram o golpe no presidente eleito.
Mas sobretudo os brasileiros não radicais abriram os olhos para os escândalos envolvendo a caserna. Não passa um dia em que não surja fato novo e desmoralizante. Há compra suspeita até de cajuzinhos.
GENERAIS NA BERLINDA – A cúpula do Exército largou a mão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, torcendo para que na delação ele não cite militares da ativa. Já os generais do núcleo palaciano — Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello —, ao que tudo indica, vão aparecer na delação ligados aos atos antidemocráticos.
Cada vez mais, a ideia do golpe ideológico empalidece diante de outra natureza de ruptura institucional, a que garantisse a impunidade e, consequentemente, a continuação dos desmandos. Prorrogar a mamata, para usar uma palavra a gosto da grei bolsonarista.
OPERAÇÃO PERFÍDIA – Uma operação da Polícia Federal, batizada de Perfídia, está apurando fraudes e compras sem licitação durante a intervenção federal no Rio chefiada por Braga Netto. O
ex-candidato a vice-presidente ocupa o centro de uma trama rocambolesca, ao lado de um doleiro e personal trainer, cujo apelido é “Macaco”, acusado de participar do esquema de remessas de cocaína para a Europa em aviões da FAB.
Ao substituir Dilma, Michel Temer deu aos militares um poder jamais visto em 21 anos (com Bolsonaro, essa situação explodiu). A violência urbana foi a justificativa de Temer para decretar a intervenção em 2018. Na época, o ex-presidente era desaprovado por 70% dos brasileiros. As Forças Armadas eram aprovadas por 40%.