Por Josias de Souza
A política tem um quê de teatro. Mas Lula e Arthur Lira exageram na encenação. Encontraram-se na noite de quarta-feira para uma conversa de três horas, no Alvorada. Falaram sobre a meia-sola que Lula decidiu aplicar prematuramente na sua equipe ministerial, para colocar um pouco mais do centrão de Lira dentro dos cofres da Esplanada. Embora saibam que palácio sem vazamento é uma fantasia, os dois orientaram suas assessorias a negar a existência do encontro.
Se não presidissem respectivamente a República e a Câmara, Lula e Lira talvez não trocassem um singelo "bom dia". Não gostam um do outro. Toleram-se em função dos cargos que exercem. Deveriam, entretanto, ter um pouco mais apreço pelo Brasil. Incomodado com a onipotência de Lira, Lula levou ao freezer o desfecho da mexida no ministério. Incomodado com a demora, Lira congelou na Câmara a votação final da proposta de nova regra fiscal.
Na quinta-feira, horas depois de ter acertado os ponteiros com Lira às escondidas, Lula deu entrevista a emissoras de rádio do Amazonas. Reafirmou que reformará sua equipe para acomodar na Esplanada, sem pressa, André Fufuca e Silvio Costa Filho, deputados do PP e do Republicanos. Atribuiu os ajustes à necessidade de obter maioria no Congresso para governar até 2026. Disse que "a troca de ministros não pode ser vista como uma coisa absurda."
O que espanta não é a troca de ministros, mas a ausência de qualificação e a escassez de interesse público. A combinação desses fatores levou à Esplanada, no início da atual gestão, gente como o deputado Juscelino Filho.
Em sete meses, o feito mais notável de Juscelino na pasta das Comunicações foi a requisição de um jatinho da FAB para participar de um leilão de cavalos em São Paulo. Na mesma quinta-feira em que falou às rádios amazonenses, Lula empossou no cargo de ministro do Turismo um neófito no setor, o deputado Celso Sabino, amigo e operador de Lira.
Contra esse pano de fundo, a teatralização da reforma empobrece um cenário já demasiado deprimente. Se o espetáculo fosse bom, Lula e Lira tricotariam na ribalta, não no escurinho do Alvorada.
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