quinta-feira, junho 29, 2023

Poupança rende 6% ao ano, bancos aplicam a 13,75%, BC sinaliza que reduzirá taxa em 0,25%

Publicado em 29 de junho de 2023 por Tribuna da Internet

Charge do Benett (folha.uol.com.br)

Pedro do Coutto

Os juros fixados para a Selic, que remunera os títulos que lastreiam a dívida interna do Brasil, foram mais uma vez mantidos na escala de 13,75% ao ano para uma inflação calculada em cinco pontos, o que revela a existência de juros reais em cerca de 9% por 12 meses, escala que só é ultrapassada pelos juros argentinos.

Sentindo a pressão do presidente Lula e da Confederação Nacional do Comércio e da Indústria, Roberto Campos Neto lançou no ar uma manobra para tentar em vão conter as reclamações que se generalizam. Deixou escapar claramente que no mês de agosto os juros de 13,75% recuarão para 13,5%. Uma queda de 0,25% apenas para levar o governo na conversa.

LUCROS – Os juros brasileiros não caem, e os PHDs sabem disso muito bem, embora não falem, para elevar sempre os lucros dos banqueiros e dos grandes aplicadores de capital. Entre os aplicadores encontram-se fundos de pensão de empresas estatais. É evidente, por exemplo, que o saldo existente nas cadernetas de poupança em cerca de R$ 1 trilhão não ficará parado na Caixa Econômica Federal e nos demais bancos. Vai dar margem, é óbvio, à sua aplicação nos títulos do Tesouro.  

Com isso, os bancos pagam aos titulares das cadernetas de poupança 6% e recebem 13,75%. Um lucro sem o menor risco. Na realidade, esse é o motivo da Selic permanecer elevada. Está nas regras do jogo do capital, enquanto os valores do trabalho humano foram arrasados pelo governo Bolsonaro, permanecendo estagnados  diante do aumento dos preços.

A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, revela reportagem de Vítor da Costa, Manuel Ventura, Vitória Abel, Renan Monteiro e Letycia Cardoso, O Globo desta quarta-feira, formulou convite para que Roberto Campos Neto compareça à Comissão e preste esclarecimentos sobre a questão dos juros da taxa Selic. A convocação foi formulada pelos senadores Randolfe Rodrigues, Ciro Nogueira, Rogério Marinha e Plínio Valério. Uma oportunidade para que surja mais um capítulo destinado a explicar para a opinião pública tanto o que ela não sabe quanto o que ela normalmente deduz.

INFLAÇÃO – Para o IBGE, a prévia da inflação deve ficar perto de zero em junho. Vítor da Costa, O Globo de ontem, destaca que o IPCA de junho deve ficar perto de zero com a redução dos preços da gasolina, dos alimentos e dos carros, embora os automóveis não pertençam ao universo dos que têm fome ou insegurança alimentar para o dia seguinte.

A queda de preços no caso brasileiro não representa a meu ver um reflexo de política monetária. Ela reflete uma retração no consumo por falta de poder aquisitivo, e assim o comércio se vê na contingência de reduzir os preços para que o volume de compras não diminua ainda mais. São aspectos diversos sobre o tema inflação e poder de compra. Mas isso não interessa ao Banco Central, mas à consciência que devemos ter sobre a realidade que nos envolve.

O Globo, por exemplo, publicou ontem que a Volkswagen suspendeu a produção de todos os seus modelos no país e que a General Motors (fabricante do Chevrolet) suspendeu a produção em face da queda das vendas. São fatos concretos. Não são teorias.