Planalto e Câmara já debatem sucessão de Lira para ampliar base de Lula
Por Victoria Azevedo, Julia Chaib e Thiago Resende | Folhapress
A sucessão pela presidência da Câmara dos Deputados entrou no pacote de itens em debate entre governo e Congresso Nacional com o objetivo de aumentar o número de votos no Legislativo favoráveis ao presidente Lula (PT).
Na última semana, integrantes do Palácio do Planalto sinalizaram ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que devem apoiar o candidato que ele escolher para substituí-lo.
Embora ainda falte um ano e meio para a eleição, que será em fevereiro de 2025, o assunto já vem sendo tratado em conversas reservadas. Não há consenso no governo Lula sobre o tema.
Porém, segundo relatos tanto de parlamentares como de membros do governo, o ministro Rui Costa (Casa Civil) sinalizou, em reunião com Lira no último dia 15, o apoio a Elmar Nascimento (União Brasil-BA).
Rui e Elmar também se encontraram na semana passada.
A sucessão na Câmara foi tratada e, segundo relatos, o ministro disse que sabia das pretensões do parlamentar e afirmou que, para Elmar conseguir o apoio do governo, era preciso trabalhar por ele e fazer mais gestos -sinalizando uma maior lealdade ao Executivo na Casa.
Apesar de o ministro e o deputado da União Brasil serem adversários políticos na Bahia, Rui, que passou a entrar na articulação política do governo, abriu espaço na agenda para se encontrar com Elmar.
Embora não trate publicamente do assunto e evite falar em nomes, Lira também tem dito a pessoas próximas que recebeu o compromisso do Palácio do Planalto de apoio ao candidato que ele quiser.
Após ter conversado com o presidente da Câmara, Rui recebeu elogios de parlamentares pela disposição de tentar melhorar o ambiente da articulação política, depois de ser duramente criticado por esses atores.
Integrantes do Planalto, no entanto, avaliam que o ministro se antecipou demais ao fazer o aceno, pois uma ala dos assessores de Lula tem preferência por outros pré-candidatos à presidência da Câmara.
Além de Elmar, despontam os nomes do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), atual vice-presidente na Casa; de Antonio Brito (BA), líder do PSD na Casa; e de Isnaldo Bulhões Jr. (AL), líder do MDB.
União Brasil, Republicanos e PP são cortejados pelo Executivo para integrar a base de Lula --juntos, eles têm 149 deputados.
Por outro lado, parte dos aliados do governo Lula defende que o Executivo deva ter um nome próprio na disputa. Eles dizem que a perspectiva de melhora na economia irá fortalecer a gestão do petista e, dessa forma, será possível ter um candidato mais alinhado às pautas de interesse do Planalto.
Pesa contra Pereira o fato de ele presidir o Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Já aliados de Lula dizem que Elmar seria uma pessoa muito próxima a Lira.
Além disso, aliados de Lula afirmam que dificilmente um mesmo partido terá o comando das duas Casas. Eles ponderam que o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) mira a sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e deverá contar com o apoio do Planalto.
Nessa avaliação, afirmam que, se não houver um nome do PT que seja consenso (internamente e com demais legendas), é preciso apostar em nomes de centro para presidir a Câmara. E citam Brito e Isnaldo.
PSD e MDB já fazem parte da base de Lula. Cada partido tem três ministérios na Esplanada.
Além disso, uma ala de integrantes do Planalto diz acreditar que uma eventual aliança com o PSD para comandar a Câmara poderia amarrar o apoio do partido para o candidato do PT na eleição presidencial de 2026.
Embora muita coisa possa mudar até fevereiro de 2025, quando está marcada a próxima eleição, essas articulações também passam pela formação da base do governo federal no Congresso --ainda que, oficialmente, membros do Planalto neguem que esse tema esteja em discussão.
O próprio Lira não tem tratado do assunto publicamente e nega que isso esteja em pauta neste momento.
O deputado do PP não pode concorrer à reeleição e tenta transferir o capital político que tem na Câmara a um sucessor. Ele foi mantido no comando da Casa após 464 votos, um recorde, e mantém forte influência sobre os pares.
Após a formação dos blocos na Casa, em abril, o presidente da Câmara afirmou que o nome que fosse debatido naquele momento estaria "morto em dois meses". "Não é inteligente, conveniente nem é sábio fazer esse tipo de alegação, porque vai fritar nomes importantes no cenário político", afirmou.
Segundo relatos, no entanto, o presidente da Câmara tem afirmado a interlocutores que o Planalto se comprometeu a apoiar seu candidato e que espera que isso seja cumprido.
Caso Elmar mantenha a intenção de sair candidato à presidência da Câmara e o governo apoiá-lo, isso poderá desagradar ao PT da Bahia.
Desde que foi eleito, Lula manteve uma interlocução com Elmar com o objetivo de angariar apoios dos 59 deputados da União Brasil. No final do ano passado, o presidente chegou a convidá-lo para assumir o Ministério da Integração Nacional.
O convite acabou retirado, porém, devido à resistência de integrantes do PT baiano, entre eles o próprio Rui Costa e o líder do partido no Senado, Jaques Wagner.
A reviravolta causou mal-estar em parte do partido e fez o próprio Elmar ficar mais rigoroso com o governo. Durante a tramitação da MP (medida provisória) que reestrutura o desenho da Esplanada dos Ministérios, o deputado ameaçou votar contra o governo.
Mudou de opinião após uma conversa com Lula, que prometeu atuar para resolver os problemas relacionados à articulação política que o deputado apontou, como demora para destravar emendas e nomeações de cargos, além de um mau relacionamento com alguns ministros.