terça-feira, junho 27, 2023

Ação da PM em acampamento golpista foi impedida por militares, denuncia coronel

Publicado em 26 de junho de 2023 por Tribuna da Internet

Não sei por que estou preso, diz ex-chefe de Operações da PM-DF

Coronel Naime, da PM, responsabiliza o Comando do Exército

Weslley Galzo
Estadão

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime afirmou nesta segunda-feira, 26, à Comissão Parlamentar de Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro que a corporação foi impedida pelas Forças Armadas de desmobilizar os acampamentos golpistas montados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.

O policial atribuiu ao general Gustavo Henrique Dutra, então chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), as ordens que vetaram a realização das ações de desmontagem dos acampamentos. Naime disse que não poderia atestar se a determinação de desmobilizar a PM partiu de Dutra, mas garantiu que ele teria sido ao menos o transmissor da decisão.

TUDO ESTRANHO – A relatora Eliziane Gama (PSD-MA) iniciou o depoimento com questionamentos a Naime sobre o setor de inteligência da PM e a atuação policial em eventos chave envolvendo apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como as manifestações do 7 de setembro de 2021 e a realização de acampamentos golpistas após as eleições de 2022.

Eliziane questionou o coronel sobre a atuação da PM no dia 12 de dezembro, data da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando golpistas tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília para resgatar um apoiador de Bolsonaro preso pelos agentes.

Naime se limitou a dizer que “tudo” naquele dia foi estranho, inclusive a decisão da PF de prender o indígena José Acácio Serere Zavante. O policial ainda alegou que não foram efetuadas prisões na ocasião porque o grupamento deslocado foi a Tropa de Choque que estava dedicada a proteger o hotel em que estava hospedado o presidente Lula e o patrimônio público.

“EFETIVO DEMAIS” – Naime relatou ter se reunido no dia 28 de dezembro com lideranças do Governo do Distrito Federal e com Dutra para organizar uma operação de retirada da estrutura dos acampamentos. De acordo com o policial, a ação foi impedida pelas Forças Armadas e Dutra teria se queixado ao então comandante geral da PM por terem deslocado “efetivo demais” no dia da desmobilização.

“A gente foi impedido. Não conseguimos fazer nem mesmo o que estava previsto. A PM ficou num descrédito muito grande”, afirmou, “Se eu falo para um general que eu tenho condições de fazer uma retirada é porque eu tenho”, disse Naime. “A gente tinha limitadas as nossas ações naquele território”, prosseguiu.

Em relação aos atos de vandalismo ocorridos no dia 8 de janeiro, Naime afirmou que o Departamento Operacional (DOP) da PM não foi inserido nos grupos de distribuição de informações dos setores de inteligência federal, o que teria comprometido a atuação do órgão. “O que me causa estranheza é que não colocaram o DOP nesse grupo, o que gerou um apagão”, disse.

SONEGARAM INFORMAÇÕES – Ele ainda acusou os integrantes da cúpula das agências de inteligência da PM, da Secretaria de Segurança Pública do DF e do Comando de Policiamento de sonegarem do DOPs “informações privilegiadas” recebidos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Naime se disse vítima de injustiça por ainda estar preso no âmbito da operação Lesa Pátria. Parlamentares da tropa de choque bolsonaristas usaram a comissão para defender o coronel. “Por o senhor está preso? Não há prova da sua autoria ou da sua coautoria? O que se percebe é uma injustiça”, disse o deputado Marcos Feliciano (PL-SP).

Naime foi chefe do Departamento Operacional da PM e está preso desde fevereiro sob suspeita de negligência nos atos golpistas ocorridos em Brasília, tanto no dia 8 de janeiro como na tentativa de invasão à sede da Polícia Federal (PF) em 12 de dezembro o ano passado. Mas o coronel saiu de folga poucos dias antes dos atos golpistas do dia 8 de janeiro, assim como o ex-ministro Anderson Torres, que comandava a Secretaria de Segurança Pública do DF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A prisão do coronel Naime é inteiramente absurda. Não conseguem provas para processá-lo, mas mesmo assim o mantêm preso, o que equivale a cumprimento antecipado de pena, sem nem mesmo ter sido julgado e sem representar risco à sociedade. Enquanto isso, Sérgio Cabral, condenado a 245 dias de prisão, está solto e curtindo a vida, aproveitando o enriquecimento ilícito que amealhou em sua trajetória de político corrupto. (C.N.)