Publicado em 29 de maio de 2023 por Tribuna da Internet
Deu em O Globo
O lançamento da candidatura Ron DeSantis à Presidência dos Estados Unidos esteve longe de ser o evento que o governador da Flórida imaginava. A conversa pelo Twitter com o bilionário Elon Musk foi marcada por falhas técnicas. O maior problema para DeSantis, porém, será político: enfrentar nas primárias Donald Trump, franco favorito.
As pesquisas têm sido implacáveis com qualquer outro republicano. Na média do site RealClearPolitics, Trump está 33 pontos à frente de DeSantis (54% a 21%). Lidera com folga nos estados que abrirão as prévias (Iowa e New Hampshire). Sites de apostas lhe dão um terço de chance de levar a Presidência.
ALGO INACREDITÁVEL – A pergunta evidente é: como um político sobre quem pesam diversos processos, com acusações que vão de fraude contábil a estupro (por esta já foi civilmente condenado), ainda submetido a investigação por apropriação ilegal de documentos do Estado, conhecido por mentir compulsivamente (até hoje insiste que Biden roubou as eleições) e mentor de uma tentativa violenta de golpe de Estado depois da derrota em 2020 consegue manter as rédeas do Partido Republicano?
Trump estabeleceu laços estreitos com seu eleitorado de extrema direita, para o qual nada disso importa. Não perdeu prestígio nem apoio pelas derrotas republicanas em 2018 e 2020. E se beneficia da gestão vacilante de Joe Biden na Presidência, que tem contribuído para a alta da inflação sem resolver os dilemas econômicos responsáveis pela vitória de Trump em 2016.
Naquela época, fazia sentido acusar Trump de tentar tomar à força o Partido Republicano. Agora, nenhum republicano parece ter chance de derrotá-lo.
CONTROLE DO PARTIDO – Faz seis anos que trumpistas controlam o comitê nacional do partido. Mais da metade da bancada republicana na Câmara foi eleita pela primeira vez e está sob a influência de Trump.
Dos dez deputados republicanos que votaram a favor de seu impeachment em 2021, apenas dois ainda têm mandato. E são minoritários em seus distritos.
Trump ou DeSantis? Proporção razoável dos republicanos — 58% segundo pesquisa YouGov — gostaria de votar numa alternativa. Mas, com o partido sob o controle de Trump, são imensas as dificuldades de alguém despontar. É o que tentará De Santis, sem despertar muita esperança.
DISPUTA DAS PRIMÁRIAS -Tão ou mais à direita que Trump, o governador da Flórida não controla as alavancas do poder no partido. Na primeira vez em que Trump venceu uma eleição primária, em 2016, DeSantis era o outsider. Hoje se tornou o establishment contra o qual um dia se insurgiu.
Isso não significa que não possa haver emoções nas primárias. O calendário promete solavancos. O julgamento de um processo por falsificação de registros em Nova York estará em andamento logo depois da Super Terça, no início de março, quando votam eleitores de mais de uma dezena de estados.
Não se prevê que algum dos processos contra Trump esteja concluído até o fim das primárias. Mas há a possibilidade de que um réu concorra à Casa Branca e seja eleito. A volta de Trump seria péssima notícia não só para os americanos, mas para todo o mundo.