sexta-feira, maio 05, 2023

Toffoli libera STF para julgar ação sobre redes sociais após Câmara adiar PL das Fake News

 

Toffoli libera STF para julgar ação sobre redes sociais após Câmara adiar PL das Fake News

Por Constança Rezende | Folhapress

Dias Toffoli
Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), liberou para julgamento, nesta quinta-feira (4), a ação de sua relatoria sobre a regulação das redes sociais e de plataformas da internet. O julgamento, entretanto, ainda não tem data para acontecer, o que depende da presidente da corte, Rosa Weber, pautar a ação.
 

A medida de Toffoli ocorre dois após o adiamento da votação na Câmara do PL das Fake News, que trata do mesmo tema.
 

A ação de repercussão geral (que incide em casos similares) relatada por Toffoli trata da constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, sancionado em 2014. A norma aborda direitos e deveres para o uso da internet no país.
 

O artigo 19 do marco isenta as plataformas de responsabilidade por danos gerados pelo conteúdo de terceiros. Neste caso, elas só estão sujeitas a pagar uma indenização, por exemplo, se não atenderem uma ordem judicial de remoção.
 

O PL das Fake News, aprovado em junho de 2020 no Senado, propõe mudanças nessas regras, com o chamado dever de cuidado.
 

A votação na Câmara foi adiada para evitar uma derrota do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a pedido do relator, Orlando Silva (PC do B-SP).
 

Antes da votação, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes criticou ofensiva das big techs contra a proposta, que incluiu publicidade e alertas em suas redes, e determinou que a Polícia Federal tomasse depoimentos dos "presidentes ou equivalentes" das empresas.
 

Moraes disse que o objetivo era esclarecer se ocorreu abuso de poder econômico. Disse que não é crível que, após as eleições e os ataques golpistas de 8 de janeiro, que as redes e serviços de mensagem privada "não tenham total consciência de sua instrumentalização por diversas milícias digitais para divulgar, propagar e ampliar inúmeras práticas ilícitas nas redes sociais".
 

Em março, o STF promoveu uma audiência pública para discutir o tema, que também é abordado em outra ação relatada pelo ministro Luiz Fux.
 

Na ocasião, Dias Toffoli disse que o tema central das ações em julgamento é a responsabilidade civil de plataformas de internet por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.
 

Durante o encontro, o Google e Facebook negaram omissão no combate a conteúdos ilegais e de desinformação e na remoção de publicações que violam as políticas das empresas. As manifestações foram feitas após ministros do Supremo voltarem a defender a regulação das redes.
 

Toffoli destacou que a autorregulação das plataformas também é bem-vinda, assim como existe na área da publicidade. Ele disse que isso poderia evitar várias discussões que chegam ao Judiciário, que cuidaria apenas das exceções.
 

Ele disse ainda que houve o aumento da depressão e suicídio entre adolescentes e citou os ataques às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro deste ano.
 

Também também defendeu que a análise do projeto de lei das fake news na Câmara não irá interferir no julgamento da corte que trata do tema. O ministro declarou que, no Parlamento, a "não decisão" é uma decisão, mas que no Judiciário não há essa opção.
 

"Eles [parlamentares] têm o direito de não querer decidir. Nós aqui no Judiciário não temos esse direito. Temos que decidir porque temos vidas, pessoas e partes que estão requerendo seus direitos ou seus pretensos direitos, e temos que julgar e decidir", disse. "Eventualmente, se o Parlamento regular a matéria, nós vamos enfrentá-la já também à luz do direito novo", acrescentou.