segunda-feira, maio 01, 2023

O homem que chora olhando o Rio Sergipe. Ele é um advogado que já vendeu lenha na infância!

01 de Mai de 2023, 11h32


Rio Sergipe: uma paisagem bucólica ofertada a partir do alto do Oviêdo Teixeira

Ele nasceu em Itabaiana, na década de 1950, em um povoado - não sei qual entre os muitíssimos que há ali. Teve muitos irmãos e primos, a mãe está com mais de 90 anos e o pai faleceu faz pouco tempo.

Todos esses parentes continuam morando em povoados de Itabaiana ou na sede daquele município. Lembra que na infância vendia lenha pelas ruas da cidade. Ele, os irmãos e os primos faziam aquele e outros serviços para ajudar os pais a colocar a comida na mesa.

Alguns poucos, entre toda aquela meninada, foram levados para uma precária escola rural. Muitos largaram o estudo ainda cedo e voltaram para a roça.

Ele, nem sabe direito como, em meio a tantas adversidades acabou chegando a um grupo escolar da cidade. Concluiu o primário, depois o ginásio e o segundo grau. Aprendeu a acreditar no estudo, e se matriculou para fazer um vestibular.

Já perto de completar 30 anos de idade começou a estudar História na Universidade Federal de Sergipe. Se formou. Com o diploma na mão, fez um concurso público e foi empossado professor da rede estadual de ensino.

Uns 20 anos depois, buscou mais uma formação. Fez um curso de Direito e se tornou advogado. Hoje é professor aposentado e mantém uma banca de advocacia no Edifício Oviêdo Teixeira. As janelas do seu escritório dão para a Rua da Frente.

De lá ele, olha o leito do Rio Sergipe e sente a brisa ribeirinha que sopra o ano todo. Acompanha o subir e descer das águas, de acordo com o movimento das marés.

Na outra margem, o olhar chega à Barra dos Coqueiros. À direita, avista a Ponte do Imperador, a Atalaia Nova, as ondas do mar. Vira-se para a esquerda, e lá está a grande ponte que cruza o rio.

Ele diz que toda vez que fica assim, parado, olhando a paisagem a partir desse ponto de vista conquistado, passa na memória sempre um mesmo filme que começa lá em sua Itabaiana Grande.

Lembra dele mesmo e das brincadeiras com os irmãos e as irmãs, com os primos e as primas. Recorda da luta do pai e da mãe e dos tios e tias pela sobrevivência das famílias e se vê de novo andando pelas ruas, oferecendo lenha.

Nesses momentos, vem-lhe no peito uma comoção. Lembra que apenas algumas poucas crianças do povoado tiveram a chance de ir à escola, e ele estava entre elas.

Relembra o gosto que nasceu nele pelo estudo e a vontade de não largar mais a sala de aula. Depois, as muitas e muitas turmas de outros jovens dos quais ele foi professor.

Nesses momentos, tomado por gratidão e compaixão, o homem chora porque gostaria de compartilhar sua história com o mundo. Assim, conta ele aos amigos.

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