Pedro do Coutto
A violência contra a mulher, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, e aliás em todo o país, vem crescendo de forma assustadora e cada vez mais preocupante na medida em que torna a insegurança um tipo de rotina torpe. O tema foi muito bem abordado na edição de O Globo de sexta-feira pela jornalista Flávia Oliveira que apresentou dados estatísticos assustadores.
A violência contra a mulher é um crime de uma covardia total e, além disso, decorre de um transtorno de machismo que atinge muitos homens, levando-os a um estado de alucinação que, por sua vez, tem base num sentimento que lhe é peculiar de considerar a mulher um objeto de sua propriedade.
POSSE – Nesta vida, ninguém é propriedade de ninguém, muitos menos a mulher do homem, embora este sentido de posse esteja presente em várias situações humanas, inclusive na música popular. Na MPB, em algumas situações, a mulher surge nos versos e na melodia como culpada de tudo que ocorre de ruim num relacionamento afetivo ou invasivo quando o afeto é substituído pelo distanciamento.
Flávia Oliveira apresenta números com base em pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Datafolha. Ao longo dos últimos anos, 21 milhões de mulheres acima de 16 anos já sofreram agressões por seus parceiros, ex-maridos e ex-namorados. Desse total, 495 foram assassinadas. Esses números referem-se aos casos registrados nas delegacias e nos hospitais. Há muitos outros que se perderam no temor de agressões maiores ainda. Uma covardia total, um comportamento absolutamente inadmissível.
IMPUNIDADE – Acresente-se que 822 mulheres são anualmente vítimas de estupro. A impunidade torna-se cúmplice nas sombras da violência. Diariamente, em todo o Brasil, 51 mil mulheres sofrem algum tipo de agressão. É impressionante, no fundo da questão, a presença de um ódio oculto à mulher que alucinadamente se reflete na insegurança masculina que se desloca para os atos violentos. A mulher é vítima de tal descalabro. Exige, a meu ver, uma campanha de base social que pelo menos diminua sensivelmente essas estatísticas sinistras.
O homem – na verdade – julga-se proprietário da mulher, inclusive no plano sexual. No relacionamento íntimo, acredito, em 70% dos casos, pelo menos, o homem preocupa-se com o seu prazer, esquecendo-se do prazer da mulher. Para os que se incluem nesse tipo de insegurança, a mulher é um objeto de recepção e de procriação, o que, dentro da visão machista, reduz os seus direitos humanos, entre eles o de prazer no relacionamento. É preciso que todos nós, homens, tenhamos a consciência de que a mulher não é propriedade de ninguém,
ASSÉDIO – Dentro do mesmo princípio de propriedade e invasão, situa-se o assédio que homens com visão doentia tentam contra a mulher. Trata-se de uma outra forma de doença, um sentimento de inferioridade no fundo, e uma farsa na medida em que homens interpretam a sensualidade que as mulheres transmitem como um direito de tocá-las e importuná-las.
A mulher, é claro, tem direito a refletir a sua sensualidade no momento em que caminha, entra numa condução coletiva ou quando exerce atividades profissionais junto a colegas de trabalho. Mas isso não autoriza que qualquer um de nós, homens, por mais que sintamos um apelo por elas, possamos tocá-las contra a vontade e em ocasiões totalmente impróprias.
Nao me refiro à palavra consetimento porque vejo o sexo como um desejo recíproco entre homem e mulher, e não com o ato de consentir que não traduz a adesão indispensável entre ambos. Na edição de O Globo deste sábado, uma excelente reportagem de Ana Flávia Pilar focaliza o problema do assédio comum na Petrobras, especialmente nas plataformas de exploração do pré-sal, nas quais os tripulantes permanecem por pelo menos uma semana no meio do mar.
ABORDAGEM – Uma funcionária técnica de operações, Paula de Carvalho Pego, queixa-se do assédio e do hábito muito comum nas plataformas de tripulantes assistirem filmes pornôs, e que precede ações voltadas para forçarem intimidades sequer sugeridas por mulheres a bordo. O assédio representa uma forma inferior de abordagem, pois ela não reflete uma convergência de vontades e sim a tentativa do lado masculino impor-se ao feminino.
Um desastre completo, marca do assédio, não levando sequer em conta a rejeição flagrante. Os quadros de violência são múltiplos, em grande quantidade são praticados entre quatro paredes. Estendem-se às pessoas da próprias famílias muitas vezes.
IMPOSTO DE RENDA – O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, revelou – Julianna Sofia e Danielle Brant, Folha de S.Paulo – que o presidente Lula vai assinar Medida Provisória amanhã elevando a isenção do Imposto de Renda na porcentagem de 25%, passando a R$ 2.640. Essa importância será considerada também para reduzir a incidência das alíquotas do IR sobre todos os salários.
Quem ganha até R$ 2.640 não pagará Imposto de Renda. Quem ganha, por exemplo, R$ 5 mil só será taxado em R$ 2.400. O compromisso de Lula na campanha de 2022 da qual saiu vitorioso é de no seu governo elevar a faixa de isenção para R$ 5 mil.