terça-feira, abril 04, 2023

Datafolha: 71% dizem que a taxa de juros já está mais alta do que deveria

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

Pedro do Coutto

Pesquisa do Datafolha divulgada na noite de sábado pela GloboNews e objeto de ampla reportagem de Douglas Gavras, Folha de S.Paulo desta segunda-feira, revela que na opinião de 71% da população, os juros da Selic estabelecidos pelo Banco Central estão mais altos do que deveriam. E daí, provavelmente, o aumento do pessimismo quanto aos rumos da inflação no Brasil.

Logo após a eleição do presidente Lula da Silva, um levantamento anterior revelava que para 49% a inflação seria reduzida. Hoje, acentua o Datafolha, esse índice recuou para 46%. O recuo é pequeno, digo, mas não deixa de representar uma tendência sobre a qual o governo precisa concentrar a sua atenção. Tanto, que no início do ano, 59% acharam que a sua situação pessoal em matéria econômica iria melhorar. No momento, esse índice desceu para 56%.

DESCONFIANÇA – O problema do desemprego também voltou a preocupar trabalhadores e trabalhadoras. Sem dúvida, esse aspecto significa claramente um processo de desconfiança que pode se alastrar, dependendo dos rumos da política do próprio governo.

Entretanto, a maioria esmagadora da população acha que o presidente Lula age bem ao pressionar o BC pela queda dos juros da Selic. Talvez seja o fantasma da Selic alta que esteja incomodando e causando pessimismo junto à opinião pública brasileira. Apenas 17% dos entrevistados pelo Datafolha acreditam que os juros se encontram num patamar adequado. Esse patamar adequado colide com a opinião do ex-diretor do Bacen Luís Mendonça de Barros para quem a taxa Selic está numa situação de exagero.

CREDIBILIDADE – Todos os governos necessitam de credibilidade junto à opinião pública, pois caso contrário o efeito inflacionário aumenta. Os juros mais altos são uma prova de desconfiança na capacidade de pagamento por parte dos devedores, o que preocupa e exacerba o mercado financeiro do país, e que se projeta na Bolsa de Valores, nas aplicações nos fundos de investimentos e nos títulos que lastreiam a dívida pública nas mãos dos bancos  e dos fundos de pensão, sobretudo.

Para uma parte dos especialistas, o pessimismo com o avanço econômico pessoal tem origem na Selic. Para uma minoria de 17%, a Selic está razoável. Logo, a maioria esmagadora da população brasileira concorda com as críticas do presidente Lula contra o índice de 13,75% da taxa Selic.

SEGREDO DAS JOIAS –  Reportagem de Dimitrius Dantas, O Globo desta segunda-feira, destaca que o ex-ministro Bento Albuquerque em seu depoimento à Polícia Federal, admite não ter informado à receita Federal de Guarulhos que era portador de um estojo de joias e que passou de forma irregular pela Alfândega. Era, assim, portador de um segundo estojo muito mais valioso, calculado em R$ 16,5 milhões, objeto da apreensão que preocupou e mobilizou o governo para obter o pacote extremamente caro.

Pela primeira vez – aspecto importante – foi publicada pelo O Globo uma foto de um representante da Arábia Saudita vestido a caráter entregando a Bento Albuquerque um estojo que pode tanto ser o primeiro quanto o segundo, mas que deu margem à intervenção da Receita Federal não permitindo o ingresso no país do pacote que descortinou toda sequência do segredo das joias.

O Globo, assinala a reportagem, teve acesso à íntegra do depoimento de Bento Albuquerque no dia 14 de março. O caso foi revelado pelo Estado de S. Paulo. A PF abriu inquérito para apurar o que aconteceu. O ex-ministro disse à Polícia Federal que os procedimentos formais exigidos pela Receita seriam adotados, mas tal afirmação não recebeu crédito por parte da Alfândega do Aeroporto de Guarulhos. Também não tiveram êxito as iniciativas realizadas posteriores ao caso, protagonizadas por representantes do governo Bolsonaro.

DIVERGÊNCIA –  Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo desta segunda-feira, publicou reportagem sobre divergências surgidas entre O Globo, o Google e a Meta e que estão criando um entrave para a Lei que regula a internet com foco nas fake news. A divergência não é quanto às fake news, mas envolve a remuneração de conteúdos jornalísticos utilizados pelo Google e o site Meta.

O projeto original que está na Câmara é do deputado Orlando Silva e prevê basicamente critério para a punição pelas publicações anônimas de mensagens de ódio e desinformações sobre assuntos de interesse coletivo. A reportagem precisa ser lida com bastante atenção.