Publicado em 2 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
João Gabriel de Lima
Estadão
No próximo mês de maio, Lisboa será a sede de uma espécie de “Rock in Rio” da ultradireita. As margens plácidas do rio Tejo ouvirão o brado retumbante – e frequentemente xenófobo – da francesa Marine Le Pen, do espanhol Santiago Abascal, da italiana Giorgia Meloni e do português André Ventura, anfitrião da festa.
Jair Bolsonaro foi convidado e deverá se juntar a eles. Em coletiva sobre o evento na semana passada, em Lisboa, Ventura destacou Bolsonaro como um dos principais nomes do “combate ao socialismo” na América Latina.
CONVITE OFICIAL – Em meados de março, Bolsonaro ainda tinha dúvidas sobre quando voltaria ao Brasil. Temia a ação da Justiça e o desgaste provocado pelo escândalo das joias, revelado pelo Estadão em furo de reportagem.
Na ocasião, Jair recebeu um conselho do filho Eduardo: aproveitar o exílio para estreitar laços com seus pares internacionais, nomeadamente Ventura e Abascal – que, a exemplo de Donald Trump e do húngaro Viktor Orbán, haviam gravado vídeos apoiando Bolsonaro durante a campanha eleitoral.
Em conversa com Ventura na semana passada, Bolsonaro foi convidado para participar do evento de Lisboa.
NA ULTRADIREITA – Se confirmar presença, Bolsonaro reafirmará sua filiação ao grupo da ultradireita, que combate a direita moderada em vários países europeus. Na Espanha a guerra é sangrenta entre o Vox, partido de Abascal, e o tradicional Partido Popular (PP). Em Portugal, Ventura quer superar o Partido Social Democrata (PSD), reduto da direita moderada. Na Itália – país que Bolsonaro também pretende visitar nas próximas semanas – a sigla Fratelli d’Italia (FdI), herdeira do fascismo de Benito Mussolini, aniquilou a centro-direita e chegou ao poder.
Em sua vinda ao Brasil, Bolsonaro enfrentará uma batalha semelhante, contra adversários que pertencem a alas menos radicais da direita.
DIREITA MODERADA – A centro-direita brasileira conquistou governos no Rio Grande do Sul e em Pernambuco, e Tarcísio de Freitas, em São Paulo, vem-se afastando cuidadosamente do bolsonarismo com o intuito de se tornar uma opção moderada.
Para liderar seu campo político, Bolsonaro terá que derrotar seus potenciais rivais para 2026. Assistiremos nos próximos três anos à versão brasileira da guerra fratricida das direitas que se desenrola já há algum tempo na Europa.
Bolsonaro irá trabalhar para que no Brasil – a exemplo do que ocorreu na Itália e nos Estados Unidos – a porção radical da direita aniquile a ala moderada.