sexta-feira, março 10, 2023

No segredo das joias, o estranho silêncio dos autores dos presentes


Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

As emissoras de televisão, como é o caso da TV Globo e da GloboNews, e os grandes jornais, continuam a publicar, com grande destaque, o episódio que chamo de segredo das joias, envolvendo diretamente o governo Bolsonaro, como os vídeos gravados confirmam, e o próprio ex-presidente da República, agora convocado a devolver uma parte dos presentes que, ao contrário das joias valiosíssimas, passou pela Receita do Aeroporto de Guarulhos.

Nas edições de ontem, Manuel Ventura, Luísa Marzullo e Bruno Góis, O Globo, Flávio Serapião e Ranier Bragon, Folha de S. Paulo, escreveram amplamente sobre o episódio tão estranho que ao longo dos dias, até o momento, o doador ou os doadores não se apresentaram para assumir sua participação ou mesmo esclarecer – e parecem dispostas a não fazê-lo – o motivo dos presentes.

MISTÉRIO – Além disso, não enviaram junto às joias qualquer bilhete ou cartão cumprimentando o ex-presidente da República e sua esposa, permanecendo assim ocultos em sombras de mistério que envolvem presentes de custo altíssimo como são as joias bloqueadas pela Receita Federal no aeroporto. Também ontem no O Globo e na Folha de S. Paulo, focalizaram o segredo das joias, Malu Gaspar e Rui Castro.

Os autores das doações, diante das circunstâncias que projetaram os fatos à escala de um escândalo, deveriam ter sido os primeiros a publicamente explicarem o assunto, diante do valor estratosférico do que foi presentado, e também qual o motivo de as joias terem sido transportadas pelo almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia. O colar e os brincos, evidentemente, eram destinados à senhora Michelle Bolsonaro, pois não se ofereciam colares e brincos a homens.

OBRIGAÇÃO – O ex-ministro, que tanto agiu na tentativa de liberar os fabulosos presentes junto à Receita Federal de Guarulhos, sem obter êxito, encontra-se, a meu ver, na obrigação de informar corretamente o que de fato aconteceu. As suas explicações até o momento não convencem, sobretudo a versão de que não tinha conhecimento do que se encontrava no conteúdo do pacote que lhe foi entregue.

É preciso que explique como e em que ocasião recebeu o pacote e a razão do destino que ele atribuiu. As joias, pela lei, seriam destinadas ao Tesouro Nacional em face do seu valor super excessivo.

O mistério permanece, inclusive, com a iniciativa do Tribunal de Contas da União no sentido de que Bolsonaro devolva ao Estado a caneta, as abotoaduras e o terço que lhe foram entregues. Aliás, entregues por quem?

JUROS –  Reportagem de Victor da Costa, O Globo de ontem, destaca que os juros altos da Selic e o episódio das Lojas Americanas que lançaram títulos e não os resgataram, nem estão resgatados, tiveram forte efeito sobre o estoque de capital de empresas e restringiram a fonte das captações no mercado financeiro. As empresas reclamam, sobretudo, dos juros altos cobrados pelos bancos.

Era previsível que os juros subiriam com base na realidade dos fatos e não nas teorias sempre repetidas pelos especialistas. Uma coisa é a teoria, outra é o efeito prático da aplicação das teorias, incluindo as que são apenas voltadas, no fundo, na tentativa de justificar o fato de a Selic encontrar-se no nível de 13,75% ao ano, sobretudo quando tal taxa incide  sobre a dívida interna do Brasil que, segundo o próprio Banco Central, situa-se em cerca de R$ 6 trilhões.

A cada 12 meses, portanto, a Selic atual leva ao comprometimento de R$ 800 milhões da dívida do país. É claro também que os juros bancários iam subir, pois se os bancos têm na Selic uma fonte de rentabilidade da ordem de 13,75% ao ano sem risco, por qual motivo lógico deveriam reduzir os juros que cobram?

SALÁRIOS IGUAIS –  Já se encontra no Congresso o projeto do governo Lula da Silva que obriga as empresas a começar pelas estatais, como é o caso da Eletrobras, da Petrobras, de Furnas e do Banco do Brasil a pagarem salários iguais para homens e mulheres que exerçam os mesmos trabalhos  e estejam sujeitos às mesmas responsabilidades.

O projeto, a meu ver, é de grande importância e absolutamente justo. Não faz sentido discriminar-se para baixo a remuneração pelo mesmo trabalho, separando mulheres e homens. A própria Constituição brasileira diz que para trabalhos iguais, salários iguais. Agora projeta-se o transporte do papel para uma realidade concreta.

Na coluna de ontem, agradeci ao editor Carlos Newton e aos leitores e leitoras pelos cumprimentos que gentilmente me enviaram pelo meu aniversário. Hoje, quero tornar público o meu agradecimento a Marcelo Copelli, sub-editor deste site, cuja competência e dedicação formam um conjunto extraordinário. Muito obrigado.