Carlos Newton
Não é nada fácil entender como funcionam as chamadas “operações compromissadas” que garantem os absurdos lucros dos grandes bancos comerciais no Brasil, incluindo os estatais Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Aqui na Tribuna da Internet, tentamos abordar a questão em termos práticos, ser recorrer ao economês. Mesmo assim, o assunto é intrincado e precisa de muito esclarecimento.
Já mostramos que o ponto crucial das “operações compromissadas” está nos depósitos a prazo, como são chamadas as diferentes aplicações dos clientes dos bancos comerciais, com exceção da poupança.
OPERAÇÓES DIÁRIAS – Ao final de cada dia, os bancos comerciais repassam ao Banco Central os depósitos à vista dos clientes, como são chamados os recursos que ficam na contas correntes de um dia para outro, sem serem aplicados. Repassam também os depósitos em poupança. e as duas operações não são remuneradas pelo BC.
Por fim, repassam também os depósitos a prazo, ou seja, as aplicações dos clientes nos mais diversos fundos, que são remuneradas aos bancos comerciais com pagamento de taxa Selic pelo BC. E são essas “operações compromissadas” que fazem a festa dos banqueiros.
INDIGNAÇÃO – Ao acompanhar os artigos sobre as “operações compromissadas”, nesta quarta-feira, dia 1º, o economista Wilson Baptista Junior ficou estarrecido com o absurdo dessas operações macroeconômicas e nos enviou algumas perguntas que não querem calar, como os jornalistas gostam de dizer.
“Se o dinheiro das aplicações financeiras feitas pelos clientes é repassado ao BC e lá fica rendendo a Selic, o que são os fundos? De onde vêm e como se calculam as diferentes lucratividades deles? Com que dinheiro, e como operam os fundos, se suas aplicações ficam no BC com rendimento fixo?“.
Essas indagações de Wilson Baptista Junior são importantíssimas, porque mostram a que ponto este país chegou na tentativa de criar um capitalismo sem risco.
SEM DINHEIRO VIVO – Bem, as operações interbancárias não são como os negócios imobiliários da família Bolsonaro, que exigem dinheiro vivo. Ao contrário, não existe dinheiro nessas transações, porque se trata apenas de movimentações contábeis.
No caso dessas “operações compromissadas”, os recursos da aplicação do cliente em fundos são transferidos no final do dia ao BC, como se o banco comercial os tivesse utilizado para comprar títulos do Tesouro, e ficam rendendo os juros da taxa Selic.
Mas como explicar como operam os fundos, se suas aplicações ficam no BC como “depósitos a prazo”, recebendo rendimento fixo? Eis a tenebrosa e intrigante questão.
MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES – Este ir e vir contábil representa uma versão financeira da multiplicação dos pães relatada na Bíblia, pois os fundos se comportam como se tivessem recebido efetivamente a aplicação do cliente e a reinvestem em sua carteira específica, como bem entenderem.
Exemplo: um fundo imobiliário pode usar aplicações do cliente para adquirir um imóvel a ser alugado e o banco comercial prontamente lhe repassa os recursos, descontando-os do total dos depósitos no BC na operação compromissada, ao final do dia. É por isso que determinados fundos levam um ou mais dias para devolver os recursos aos clientes, porque é preciso “descruzar” as aplicações, digamos assim.
O importante é que o banqueiro esteja garantido por todos os lados. É legal? Pode até ser, pois está previsto em lei. E agora os bancos estão até aplicando outros recursos “(Depósitos Voluntários”) também para receber a Taxa Selic, sem comprar títulos públicos. É o que determina a nova lei aprovada pelo senador petista Rogério Carvalho, que é médico, mas se dedica a inventar complicadas cirurgias financeiras.
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P.S. – Não há qualquer crime, é tudo dentro da lei. A única irregularidade é o Banco Central omitir de seu balanço as movimentações bancárias propiciadas pela criatividade do valoroso parlamentar petista, que Lula até deveria indicar para a presidência do BC, pelos inestimáveis serviços já prestados aos banqueiros. (C.N.)
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