sábado, fevereiro 25, 2023

Bolsonaro nega saques em dinheiro no corporativo já comprovados nas investigações


TRF-4 absolve Dilma por gastos com o cartão corporativo | Espaço Vital

Charge do Solda (Arquivo Google)

Rodrigo Rangel e Sarah Teófilo
Metrópoles

O ex-presidente Jair Bolsonaro se manifestou, na noite desta sexta-feira, sobre as suspeitas de que seu principal ajudante de ordens no Palácio do Planalto, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, operava uma espécie de caixa 2 com recursos em espécie que eram usados, inclusive, para pagar contas pessoais da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela.

Bolsonaro respondeu por escrito a uma série de perguntas enviadas pela coluna do Metrópoles, que revelou detalhes de investigações que correm no Supremo Tribunal Federal sob o comando do ministro Alexandre de Moraes.

CARTÕES CORPORATIVOS – A reportagem mostrou que os investigadores que atuam com Moraes mapearam, a partir de quebras de sigilo autorizadas pelo ministro, saques e pagamentos feitos por Cid e homens de sua equipe na agência do Banco do Brasil localizada dentro do palácio presidencial.

A apuração, a cargo da Polícia Federal, aponta que parte dos recursos era proveniente de cartões corporativos do governo, inclusive de unidades militares. Entre os pagamentos estavam faturas de um cartão de crédito emitido em nome de amiga de Michelle que era usado pela então-primeira-dama.

Bolsonaro repete, nas respostas, que “nunca foram feitos saques do cartão corporativo pessoal” — ele se refere sempre a “cartão corporativo pessoal”, desconsiderando que havia outros cartões à disposição da equipe de Cid. Junto com as respostas, ele enviou dez páginas de extratos do cartão corporativo emitido em nome de Mauro Cid nas quais não aparecem movimentações.

Por que o tenente-coronel Mauro Cesar Cid e sua equipe pagavam contas e outras despesas do senhor e de seus familiares em dinheiro vivo?
Conforme o decreto número 10.374, de 2020, compete e faz parte das atribuições da ajudância de ordens prestar os serviços de assistência direta e imediata ao presidente da República nos assuntos de natureza pessoal, em regime de atendimento permanente e ininterrupto, em Brasília ou em viagem, receber correspondências e objetos entregues ao presidente da República em cerimônias e viagens e encaminhá-los aos setores competentes, e realizar outras atividades determinadas pelo chefe do gabinete pessoal do presidente da República.

Por qual razão eram feitos saques a partir de cartões corporativos?
Nunca foram feitos saques do cartão corporativo pessoal que ficava nas mãos dos ajudantes de ordens, bem como nunca se utilizaram do mesmo.

Essas transações tinham aval do senhor?
Nunca foram feitos saques do cartão corporativo pessoal que ficava nas mãos dos ajudantes de ordens, bem como nunca se utilizaram do mesmo.

Como o tenente-coronel manejava também dinheiro sacado de cartões corporativos, como é possível garantir que não havia uma mistura dos recursos ao pagar despesas que eram pessoais, incluindo algumas da família da primeira-dama?
Os ajudantes de ordens nunca fizeram saque no cartão corporativo, bem como nunca se utilizaram do mesmo.

O senhor tinha conhecimento de que o tenente-coronel manejava também recursos sacados de cartões corporativos de outros órgãos, inclusive de organizações militares?
Os ajudantes de ordens nunca tiveram acesso a nenhum cartão corporativo de nenhum órgão e muito menos de nenhuma organização militar. Isso é facilmente comprovado no Portal da Transparência.

Por que cabia ao tenente-coronel Cid falar com apoiadores do senhor, inclusive pessoas que figuram como investigadas nos inquéritos que correm no STF?
Os ajudantes de ordens são responsáveis pela condução e execução da agenda presidencial e durante o dia várias pessoas buscam contato com o presidente da República.

A intermediação do tenente-coronel se dava para que o senhor não tivesse que tratar diretamente com esses apoiadores? Por quê?
Já foi respondido acima.

O senhor teme ser pessoalmente implicado nas investigações em curso no Supremo que miram o tenente-coronel Cid?
Já sou parte da grande maioria delas.

Por que a primeira-dama Michelle Bolsonaro usava um cartão de crédito de uma amiga?
A primeira dama utilizou o cartão adicional de uma amiga de longa data. A utilização se deu porque a Michelle não possuía limites de créditos disponíveis. A última utilização foi em julho de 2021, cuja fatura resultou em quatrocentos e oito reais e três centavos.

Qual é a relação do senhor e de sua família com a senhora Rosimary Cordeiro?
A senhora Rosimary Cordeiro é amiga da Michelle há mais de 15 anos.

Por que o tenente-coronel Cid, ainda no final de seu governo, foi designado para comandar um batalhão com missão tão sensível como o 1º BAC, no Comando de Forças Especiais? Foi um recado para o novo governo?
Ele foi designado em maio, antes da eleição, sem minha interferência, seguindo o processo seletivo de Exército que iniciou em setembro de 2021. Independentemente do resultado eleitoral, ele daria prosseguimento na sua carreira militar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Acostumado a usar dinheiro oriundo das rachadinhas desde que se tornou político, Bolsonaro seguiu a velha prática quando esteve no exercício do poder. Nesta entrevista, ele nega, infantilmente, saques em dinheiro vivo feitos nos cartões corporativos que ficavam com seus auxiliares diretos. Ou ele está mentindo ou era o último a saber, porque as investigações já revelaram esses saques em espécie. Quanto ao caso do cartão corporativo da amiga de Michelle, isso, sim, é injustificável. Bolsonaro é um homem de mutas posses, não lhe falta cartão de crédito para deixar com a mulher, a não ser que o ex-presidente seja um avarento compulsório. (C.N.)