sábado, janeiro 28, 2023

No Brasil, golpismo está no sangue, passa de pai para filho nas famílias de militares

Publicado em 28 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet

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Charge do Junião (Arquivo Google)

Hélio Schwartsman
Folha

Por que os militares brasileiros são tão golpistas? Há várias respostas possíveis. Daria até para afirmar que não são, já que não houve ruptura por aqui, apesar dos estímulos do ex-presidente Jair Bolsonaro a uma.

Mas, se desta vez as forças castrenses não atravessaram o Rubicão, acho difícil negar que elas tenham nítida predileção por um discurso autoritário de direita e que caminharam perigosamente perto do golpe, ao não rejeitá-lo “ab ovo” como teriam exigido a Constituição e o pudor republicano. Por quê?

FAMÍLIAS MILITARES – Exploro hoje um aspecto quase sempre negligenciado que é a combinação da psique humana com o caráter meio endogâmico das famílias militares.

Tudo começa com um processo de autosseleção. No Ocidente, verifica-se um excesso de gente de direita nas carreiras militares, assim como é mais comum ver pessoas de esquerda na academia. Traços de personalidade explicam parcialmente.

A abertura ao novo é uma característica valorizada nas universidades que também está mais presente no blend da mentalidade esquerdista. Já a conscienciosidade (gosto por hierarquia e previsibilidade), que ajuda na caserna, aparece com mais destaque nos tipos direitistas.

SÃO GERAÇÕES – Soldados também tendem a casar-se com filhas de soldados (e agora com soldadas) para gerar soldadinhos. Isso não surpreende. É comum que filhos sigam a profissão dos pais.

Como resultado, não são poucos os militares de hoje com pai, tios ou avós que também foram militares e serviram nos anos 1960 e 1970. O problema desse elemento dinástico é que ele vem dificultando que as Forças Armadas reconheçam que cometeram crimes na ditadura. Os atuais soldados não querem ver seus parentes como autores de delitos contra a humanidade. Preferem ver vovô e titio como “heróis” que combateram o comunismo.

Nosso erro foi não ter levado a uma justiça de transição os responsáveis pelas torturas assim que reconquistamos a democracia.