domingo, dezembro 04, 2022

Política e disciplina não combinam nos quartéis e logo conseguem contaminar os sargentos


Brasil 247: Militar do GSI ameaça matar eleitores de Lula e diz que presidente eleito não tomará posse.

Este sargento trabalha com Heleno e quer a morte de Lula

Elio Gaspari
Folha/O Globo

É velha como a Sé de Braga a afirmação de que, quando a política entra num quartel por uma porta, a disciplina sai pela outra. No princípio, um general pensa de uma maneira, e outro, de outra. Depois, a divergência passa aos coronéis, e assim sucessivamente. Em algum momento os comandantes militares devem parar essa roda, pois já há gente chamando generais de “melancias” (verdes por fora, vermelhos por dentro).

Chegou-se ao ponto de um sargento lotado no Gabinete de Segurança Institucional postar uma mensagem dizendo que Lula não subirá a rampa do Planalto no dia 1º de janeiro.

NOVO MINISTRO – A turma da transição quebrou a cabeça para escolher um ministro da Defesa. Pode ser importante, mas não é tudo. Os três novos comandantes das Forças assumirão seus postos com a tarefa de colocar ordem nas casas.

Há chefes militares que empurram a disciplina com a barriga (Lyra Tavares, desastrosamente, em 1969) e chefes que a defendem com o pulso (Leônidas Pires Gonçalves, de 1985 e 1990, e Orlando Geisel, de 1969 a 1974). Estão aí, calados, dois comandantes que chefiaram o Exército sem tumultos: Enzo Peri (2007-2015) e Gleuber Vieira (1999-2003).

Os dois sabem das coisas e afastaram-se da vida pública. Ouvi-los pode ser boa ideia. Ambos estão esquecidos, graças a duas regras de ouro do profissionalismo militar: Se você é paisano e não sabe quem é um general, ele é um grande oficial, e se ele passou por um grande comando e você se esqueceu dele, foi um grande comandante.

DUAS ESTATÍSTICAS – O ministro Alexandre de Moraes, que cuida dos inquéritos das manifestações golpistas, está diante de duas estatísticas. Uma é horrível, a outra é didática.

A horrível é de Pindorama: ninguém foi preso pela baderna dos caminhoneiros de 2018. Ela quebrou uma perna do governo de Michel Temer, foram abertos dezenas de inquéritos e ninguém foi para a cadeia.

A outra vem dos Estados Unidos. No dia 6 de janeiro de 2021, uma multidão golpista invadiu o Capitólio. Pelo menos 955 cidadãos estão espetados na Justiça, cerca de 800 passaram pela cadeia e perto de 200 já foram condenados.