sexta-feira, dezembro 30, 2022

O voto e a democracia no caminho da volta de Lula à Presidência da República

Publicado em 30 de dezembro de 2022 por Tribuna da Internet

Lula tem uma longa jornada marcada por episódios de impacto na política

Pedro do Coutto

Muito bom o filme de Julia Duailibi exibido na noite de quarta-feira na GloboNews sobre a fase em que Lula se encontrava preso no Paraná e os depoimentos de pessoas que o visitaram, quebrando a solidão do encarceramento e, sem dúvida, acrescentando um passo humano no retorno que se concretizou em outubro deste ano.

A vida de Lula nas urnas é uma longa jornada marcada por episódios de impacto como foi a sua classificação para o segundo turno da sucessão presidencial de 1989. O primeiro turno terminou apresentando 29 pontos para Fernando Collor, 16 para Lula e 15 para Leonel Brizola. Portanto, na decolagem do destino, um ponto incluiu Lula da Silva definitivamente na história do Brasil.

PLURALIDADE – Ele participou de nove eleições presidenciais, vencendo cinco e perdendo quatro. Na história universal, não há outro exemplo de uma pluralidade de tempo sobre o poder. Mas esse é outro ponto. O ponto fundamental focalizado por Julia Duailibi é mais abrangente do que o tempo em que esteve sem liberdade ao longo do governo de Michel Temer e também o de Jair Bolsonaro.

Eu disse que o voto e a democracia foram os argumentos fundamentais para o seu retorno e para a sua vitória. Não se deve esquecer para a identificação de um panorama da história brasileira que no governo Bolsonaro eram realizadas sucessivas concentrações na Esplanada de Brasília com manifestantes radicais propondo a intervenção do governo no Supremo Tribunal Federal e no Congresso do país.

Essa ameaça que inevitável e logicamente se concretizaria em uma eventual reeleição de Bolsonaro, na realidade levou o STF a anular a condenação de Lula reconhecendo por sete votos a quatro a parcialidade do juiz Sergio Moro e devolvendo a ele, Lula da Silva, o direito de liberdade e de concorrer às eleições de 2022.

ROMPIMENTO – O julgamento deixou o hoje senador Sergio Moro numa situação péssima, a partir do instante em que aceitou o Ministério da Justiça. Na pasta, rompeu com Bolsonaro, mas na campanha deste ano surpreendentemente se reaproximou.  O Supremo Tribunal Federal, no fundo, na minha opinião, agiu para preservar a democracia brasileira, preservando a si mesmo e também o Poder Legislativo.

A liberdade encontrava-se sob ameaça juntamente com o Estado de Direito e com o regime democrático. O documentário de Julia Duailibi é um registro importante de uma fase conturbada da política e da vida brasileira.

SOMBRAS EM BRASÍLIA –  Os fatos que se sucederam às urnas são profundamente marcantes, a começar por concentrações nas portas de quartéis, sobretudo no Quartel General de Brasília. Extremistas da direita incendiaram automóveis, ônibus e tentaram invadir a própria sede da Polícia Federal. O governo Bolsonaro ficou em silêncio com exceção de um tímido e genérico pronunciamento do ministro Anderson Torres da Justiça.

Ontem, uma exposição de cerca de uma hora através da GloboNews, e certamente publicada nas edições de hoje da Folha de S. Paulo, O Globo e do Estado de S. Paulo, relatou as providências estabelecidas para a posse de Lula novamente na Presidência da República. As providências incluem o reforço da segurança para que fanáticos não se ocultem nas sombras do Planalto e se voltem a atos alucinados contra a democracia.

AMEAÇA – Muito bom o artigo de Ruy Castro ontem na Folha de S. Paulo sobre uma atmosfera de ameaça acrescentada pela viagem do presidente Jair Bolsonaro para a cidade americana de Orlando, procurada intensamente por causa da Disney World. Bolsonaro fora do país, se de fato viajar, pode ser uma atitude de isentar-se de qualquer vinculação no episódio da entrega da faixa a seu sucessor assim não lhe transmitiria o poder e se distanciaria da responsabilidade.  

Ontem também verificaram-se várias prisões de pessoas que participaram das manifestações antidemocráticas em Brasília, além de financiadores subversivos dos custos do acampamento. A história se escreve em capítulos que na realidade se desenrolam nas páginas dos principais jornais do país, e ficam para sempre registradas além das edições impressas, em documentários como o de Julia Duailibi, que é um marco no tempo.

MUDANÇA RADICAL – O deputado Luís Marinho na pasta do Trabalho e Carlos Lupi na Previdência Social, na minha opinião, representam sinais concretos de que a política social e trabalhista do governo Lula da Silva será absolutamente contrária à que foi imposta pelo ministro Paulo Guedes. Esta observação me parece suficiente para acentuar uma mudança radical nas relações entre o governo e o exercício dos legítimos direitos trabalhistas e previdenciários.

Numa longa entrevista a Miriam Leitão, O Globo desta quinta-feira, Fernando Haddad fala do combate ao anunciado déficit de R$ 220 bilhões previsto para o orçamento de 2023 e o combate a 2,5 milhões de fraudes já identificadas no Cadastro Único do Auxílio Brasil, que a partir de janeiro, voltará a ser Bolsa Família. Provavelmente, escreverei amanhã sobre a entrevista de Fernando Haddad a Miriam Leitão. O ano de 2022 se aproxima do fim, é tempo de alvorada.