Publicado em 6 de dezembro de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente eleito, Lula da Silva, vai anunciar logo após a diplomação, marcada para o dia 12, no Tribunal Superior Eleitoral, o ministério do qual a parcela de 80%, conforme ele disse, já se encontra na sua cabeça. O setor militar, sem dúvida, é o mais sensível, e o ministro da Defesa, que ao que tudo indica será José Múcio Monteiro, terá que submeter ao presidente os nomes dos novos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Reportagem de Geralda Doca, O Globo desta segunda-feira, focaliza o tema e assinala a sensibilidade da área. Mas, essa sensibilidade exige um critério bem definido na escolha dos titulares com a exigência apenas de compromisso absoluto com a democracia, com a Constituição e com a vontade popular registrada pelas urnas de outubro.
ACONTECIMENTOS – Ao longo da história do país, vários acontecimentos se sucederam na área das Forças Armadas. O episódio de 24 de agosto de 1954 foi um deles, antecipado pelo 29 de outubro de 1945 que afastou Getúlio Vargas do poder após uma ditadura de oito anos e uma permanência no governo que teve início em 1930 e se estendeu por 15 anos.
Depois, registrou o movimento de 11 de novembro de 1955, tendo à frente os generais Teixeira Lott e Odylio Denys que asseguraram a posse de Juscelino Kubitschek contra as investidas golpistas lideradas por Carlos Lacerda e por interesses econômicos que tinham como principal meta a questão do petróleo e da Petrobras. Daí a facilidade de espaço encontrada por Lacerda em veículos de comunicação.
Passado o tempo, houve a crise de 1961 com a renúncia de Jânio Quadros, sua tentativa de golpe e a posse do vice-presidente João Goulart. Novamente o movimento contra o cumprimento da Constituição e a investidura de Jango foi liderada no meio civil por Lacerda. Não teve êxito em face da resistência do então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Mas o governo Goulart entrou em um universo de radicalismos, com o desfecho na reunião dos sargentos no Automóvel Club do Rio de Janeiro e a queda do governo.
NOVO PANORAMA – Sucederam-se vinte e um anos de ditadura militar. Superados esses acontecimentos em série, descortina-se agora um novo panorama bem definido com Lula apoiado pelo pensamento democrático e pela comunidade internacional, apenas contestado por uma fração no fundo paramilitar, mas também pelo silêncio incentivado por militares, entre eles o presidente Jair Bolsonaro.
A importância do setor é tão vital que a escolha dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, na minha opinião, decretará o fim de resistências políticas que só se dissolvem com o tempo, não muito longo, mas com o vento de uma nova ocupação no poder. As manifestações do meio civil com a presença de políticos estão contribuindo de forma fundamental para a rejeição de atos contrários à diplomação e à posse de Lula da Silva na Presidência da República.
LEGITIMAÇÃO – Na área política, inclusive, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, foi o primeiro a cumprimentar Lula pela vitória e a manifestar-se pela legitimidade das urnas. O meio político já se transferiu de lado, caso do Centrão e dos partidos que apoiaram a candidatura Bolsonaro. É sempre assim. Essas forças apoiaram Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, durante um ano e meio Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Com a derrota do atual presidente da República, alteram-se novamente os dados do apoio político que inclui o Centrão que formou ao lado de todos os governos, inclusive o de Temer. Daí a importância da escalação da equipe militar. Escalada a equipe, deslocam-se as preocupações ainda existentes no universo da farda e que foram inclusive sintetizadas pelas palavras de um sargento da Marinha que trabalha no Planalto. O militar afirmou ser contrário a que Lula suba novamente a rampa do Planalto. É claro que ele refletiu apenas expressões que ouviu de seus superiores.