sexta-feira, dezembro 02, 2022

Militares conspiram acintosamente, mas Lula acha que está no melhor dos mundos

Publicado em 2 de dezembro de 2022 por Tribuna da Internet

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar (Veja)

Carlos Newton

Com a aproximação da data de diplomação de Lula da Silva e Geraldo Alckmin, como presidente e vice eleitos, aumentou muito a movimentação a favor da intervenção militar. A evidência mais grave é a informação extraoficial de que os três comandantes militares se afastarão dos cargos na segunda quinzena de dezembro, em protesto pela eleição de Lula, por ser um ex-presidiário que ganhou a liberdade e recuperou os direitos políticos através de manobras jurídicas no Supremo Tribunal Federal.

Este fato é gravíssimo. Não se trata de simples insubordinação, mas de uma verdadeira conspiração, porque a exoneração coletiva – de Marco Antônio Freire Gomes, Exército, Carlos de Almeida Baptista Junior, Força Aérea, e Almir Garnier, Marinha – está sendo decidida com apoio do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e do presidente Jair Bolsonaro, mas o PT e o próprio Lula estão levando na brincadeira.

OMISSÃO GERAL – Até agora, Lula não tomou nenhuma providência. Limitou-se a sinalizar a indicação de um civil para o Ministério da Defesa, como se isso fosse agradar aos militares. No mínimo, imediatamente deveria ter enviado Geraldo Alckmin para uma conversa com o ministro Paulo Sérgio Nogueira, mas essa hipótese sequer foi aventada.

A imprensa petista, tão ignorante quanto o próprio Lula, acha que não haverá problema algum, porque o presidente eleito vai indicar os novos comandantes militares, e fim de papo. Como se vê, a imbecilidade reina no petismo. Ninguém percebe que Lula ainda nem foi diplomado. Só tem condições de fazer nomeação após tomar posse.

Se realmente acontecer essa exoneração coletiva e simultânea, na forma da lei cabe ao ainda presidente Bolsonaro nomear seus substitutos. Enquanto isso não ocorrer, assumem interinamente os chefes dos Altos-Comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

INSUBORDINAÇÃO – Os petistas não entendem que os comandantes militares e o próprio ministro da Defesa estão sinalizando para a tropa que não aceitam a autoridade de Lula. Essa insubordinação não representa um golpe, mas evidencia que as Forças Armadas estão prontas para fazer a tal intervenção federal, como os bolsonaristas apelidaram uma nova ditadura.

Em 1964, o golpe estava armado, mas ninguém sabia quando ocorreria. Acabou sendo deflagrado por um general de segunda linha, Olympio Mourão Filho, que comandava a pequena unidade de Juiz de Fora e decidiu avançar para o Rio de Janeiro. Se a FAB enviasse alguns aviões para metralhar os soldados de Mourão, a brincadeira acabaria rapidamente.

Agora, o golpe é diferente, tem Dia D e Hora H, como diria o general-deputado Eduardo Pazuello. Será antes do Natal, porque a Aeronáutica já teria marcado a posse do novo comandante para o dia 23. Mas como estabelecer data, se não houve nomeação publicada no Diário Oficial?

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P.S. 1
 – Como lembrou Augusto Tomazini aqui na Tribuna, não se pratica golpe militar no Brasil sem as bênçãos do Comando Sul dos Estados Unidos (USSouthCom) e da Otan. Os recados enviados pela Casa Branca foram vários e bem claros contra esta hipótese. Lula poderia ligar para Joe Biden e pedir o apoio dele. Mas será que adiantaria? No governo paramilitar de Bolsonaro a Casa Branca foi esnobada sem a menor cerimônia.

P.S 2 – Nas Forças Armadas, o exemplo sempre vem de cima, a noção de hierarquia pesa muito, é obrigatório obedecer aos superiores. Portanto, se os oficiais-generais em comando se comportam dessa forma insubordinada e claramente conspiratória, o que pode impedir que os oficiais subalternos adotem o mesmo procedimento? Nada, rigorosamente nada. Por tudo isso, o quadro político deveria ser considerado gravíssimo e altamente preocupante. Mas quem se interessa? (C.N.)