Pedro do Coutto
Foi um verdadeiro desastre a derrota da seleção brasileira para a de Camarões na tarde de sexta-feira. A equipe não se encontrou e não teve um plano tático traçado pelo técnico Tite. Saída de bola muito lenta, passes muito curtos e desentrosamento entre o meio-campo e a linha de frente. Aliás, a linha de frente estava enfraquecida. O treinador só corrigiu quando substituiu Gabriel Jesus pelo atacante Pedro. O time melhorou, mas perdeu o jogo.
Embora a equipe tenha sido formada por reservas, o estilo de jogo contra Camarões, uma equipe fraca, repetiu o desempenho dos titulares contra a Suíça poucos dias antes. Contra a Sérvia,a atuação foi melhor. Mesmo assim, a derrota inesperada acende um sinal de alerta na seleção de ouro. É preciso melhorar a atuação consideravelmente.
ZEBRAS – É verdade que várias zebras surgiram no deserto do Qatar. A França, por exemplo, foi derrotada, a Alemanha ficou fora da Copa e o Uruguai retornou para Montevideo fora das oitavas de final. Mas o desempenho de outras seleções não deve interessar ao Brasil e à seleção brasileira.
Uma equipe para ser campeã não pode escolher adversário e nem contar com o sucesso ou a derrota de outras equipes. Tem que depender só de si. É o que se espera na segunda-feira contra a Coreia. Mas, além da Coreia, ultrapassando esse obstáculo, a seleção terá outros pela frente.
Não tivemos poder de ataque contra Camarões e os lances de maior perigo contra o adversário foram desfechados por Martinelli, jogador de meio-campo, mas que chegou mais à área adversária e do gol. Atuamos mal e precisamos corrigir. Inclusive, atuando mais à frente, sem temor de sermos superados.
CORTES – Os cortes de verbas do MEC para as universidades parecem, a meu ver, propositais e buscam a realização de manifestações públicas contrárias ao governo, capazes de gerar tumultos nas ruas, por coincidência pouco antes da diplomação de Lula da Silva pelo TSE.
A intencionalidade das medidas administrativas ganhou ainda maior percepção política quando, na sexta-feira, o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, dirigiu-se ao Tribunal de Contas da União consultando – o que não tem cabimento – sobre o uso de crédito extraordinário para pagar as aposentadorias do INSS, já que o governo está sem recursos. Absolutamente incrível.
Cabe perguntar ao ministro Paulo Guedes por que ele diz que sobraram apenas R$ 2,4 bilhões dos recursos disponíveis pelo governo, o que o torna responsável, pelo menos, pela falta de previsão financeira e orçamentária quanto às obrigações inadiáveis do governo. A folha do INSS destina-se ao pagamento de 32 milhões de aposentados e pensionistas. É claro que com R$ 2,4 bilhões o INSS não tem condições de efetuar os pagamentos.
MANIFESTAÇÕES – Temos a impressão de que a escassez de recursos está sendo usada para provocar uma sequência de manifestações de rua, criando uma situação de insegurança. Não acredito que o plano dê certo, mas a intenção está indiretamente caracterizada. Não pode haver outra explicação.
Caso contrário, o governo, principalmente na área de Paulo Guedes, terá cometido crime de responsabilidade: “não prever as despesas obrigatórias da administração pública”. A reportagem na Folha de S. Paulo deste sábado é de Idiana Tomazelli. A do O Globo, de Manuel Ventura.
FAIXA CRÍTICA – Sessenta e dois milhões de brasileiros e brasileiras vivem na pobreza, revela o próprio IBGE, acentuando que essa faixa crítica na qual a alimentação do dia seguinte é sempre uma dúvida, representa 29,4% da população brasileira. A situação piorou em 2021 em relação a 2020. A percentagem extremamente crítica elevou-se de 27,3% para 29,4%. A reportagem na Folha de S. Paulo é de Leonardo Vieceli, edição deste sábado.
Na minha opinião, a tendência da pobreza é, mantida a política de Paulo Guedes e de Bolsonaro, portanto, seria, não fosse a derrota nas urnas, de aumentar ininterruptamente. A população cresce na velocidade de 1% ao ano. O Produto Interno Bruto, sobretudo em 2022, fica abaixo desse índice.
O desemprego melhorou, mas os salários pioraram. E, ainda por cima, há o congelamento que abrange milhões de trabalhadores e trabalhadoras em diversos segmentos da produção. Os funcionários encontram-se há quatro anos sem uma reposição inflacionária sequer.
APOSENTADORIA – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, anunciou que vai conceder uma aposentadoria ao presidente Jair Bolsonaro em face de sua contribuição previdenciária durante quase 30 anos de atividade parlamentar. Some-se a esse valor a pensão de ex-presidente da República e o pagamento por ser reformado do exército no posto de capitão.
Pode-se argumentar que se trata de direitos legais. Mas o limite usado para todos não é o mesmo limite a ser aplicado a Bolsonaro. No serviço público, o teto de remuneração abrange os pagamentos de mais de uma aposentadoria e também o seu acúmulo com pensões. Fica aí um precedente a ser resolvido pela Justiça quando funcionários sofrem cortes nas suas aposentadorias e pensões quando elas ultrapassam o limite de R$ 33 mil.