segunda-feira, setembro 26, 2022

Vacina contra a Covid-19 do futuro poderá ser um spray nasal




A administração nasal permite a produção de numerosos anticorpos na mucosa nasal e bloqueia a multiplicação do vírus em um estágio inicial da infecção. Science Photo Library

A pesquisa sobre o coronavírus continua na Suíça. Os estudos mais promissores estão voltados para o desenvolvimento de vacinas mais eficazes, capazes de bloquear o vírus já no nariz, o primeiro órgão com o qual ele entra em contato.

Fala-se cada vez menos sobre ele, mas o coronavírus não desapareceu. As pesquisas ainda estão sendo feitas? Como a ciência e os desenvolvimentos suíços podem contribuir para acabar com a pandemia?

Marcel Salathé, epidemiologista e diretor do programa de pesquisa Covid-19 do Fundo Nacional Suíço de Pesquisa Científica (FNS), tem a resposta pronta. Em uma entrevista coletiva realizada neste mês, o cientista e um grupo de colegas apresentaram as pesquisas que estão sendo conduzidas na Suíça com financiamento público. Seu apelo é claro: “O coronavírus permanecerá entre nós: a pesquisa deve, portanto, ser mantida com a mais alta prioridade.”

Entre os objetivos mais ambiciosos está o desenvolvimento de novas vacinas mais eficazes, econômicas e fáceis de administrar. Mas também estão sendo realizadas pesquisas sobre a prevenção da Covid longa e sobre os efeitos da pandemia na saúde mental.

Uma vacina nasal mais eficaz a longo prazo

Vários projetos de pesquisa financiados na Suíça têm como objetivo desenvolver novas vacinas. Entre as mais promissoras está uma vacina nasal desenvolvida pelo Instituto de Virologia e Imunologia (IVI) de Berna. A vacina utiliza uma forma enfraquecida do SARS-CoV-2 – chamada “viva atenuada” – que não causa a doença, mas ativa uma resposta imunológica, uma técnica que já foi empregada com sucesso contra outros vírus, como o do sarampo.

A administração nasal possibilita a produção de muitos anticorpos ainda na mucosa nasal, ao contrário das vacinas de RNA mensageiro (mRNA), e o bloqueio da multiplicação do vírus nos estágios iniciais da infecção, já no local em que ele entra no corpo.

“Descobrimos que desencadear a resposta imunológica a partir da mucosa nasal ajuda a minimizar o máximo possível a transmissão do vírus”, diz Volker Thiel, o virologista do IVI que coordena a pesquisa. Seu grupo está trabalhando atualmente com a empresa de biotecnologia RocketVax, sediada na Basiléia, para levar essa nova tecnologia para a fase clínica e depois para o mercado. “Mas é difícil prever quando isso vai acontecer”, afirma o pesquisador.

Vacina de mRNA: boa, mas poderia ser melhor

Na Suíça, as vacinas mais amplamente administradas são as vacinas de mRNA da Moderna (cerca de 60% das doses) e da Pfizer/BioNTech (cerca de 30%). Essas vacinas são seguras e oferecem uma proteção eficaz contra o desenvolvimento grave da doença. Mas dados recentesLink externo mostram que a proteção que elas oferecem contra a infecção sintomática causada pelas variantes Ômicron – as que mais circulam na Suíça – é muito reduzida tanto em indivíduos vacinados quanto em não vacinados, mas recuperados. De acordo com o grupo de pesquisa de Thiel, as vacinas vivas atenuadas, por outro lado, proporcionam uma melhor proteção contra as novas variantes do vírus.

'As vacinas intramusculares de mRNA não oferecem proteção a longo prazo, mas requerem doses de reforço constantes: já após dois a três meses, a eficácia cai de 75% para 45%'.

Além disso, as vacinas de mRNA não oferecem uma proteção a longo prazo. Elas exigem doses de reforço constantes: já após dois ou três meses, a eficácia cai de 75 para 45%. “A duração da proteção é importante”, diz Thiel. Vários estudosLink externo já demonstraram que as vacinas nasais permitem o desenvolvimento de uma imunidade mais completa e duradoura em comparação às vacinas intramusculares, principalmente no caso de vírus que atacam o trato respiratório. Essas vacinas também são mais fáceis de transportar e armazenar do que as vacinas de mRNA, que devem ser mantidas numa temperatura entre -90 e -60 graus Celsius.

Um projeto de pesquisa liderado por Steve Pascolo, do Hospital Universitário de Zurique, pode ter encontrado uma solução para o problema do armazenamento. Sua equipe desenvolveu um vetor de vacina mRNA mais estável e facilmente transportável. O cientista também está trabalhando no desenvolvimento de uma vacina mRNA otimizada contra a Covid-19, capaz de induzir uma boa resposta imunológica com quantidades mínimas de mRNA injetado. Isso reduziria o custo e o tempo de produção de tais vacinas.

Os avanços da pesquisa sobre a Covid longa

No que diz respeito à prevenção da Covid longa, Salathé admite que o programa do FNS não financiou nenhum projeto específico. “Algumas pesquisas em andamento podem ser relevantes, mas ainda é muito cedo para saber”, afirma.

Uma dessas pesquisasLink externo forneceu informações sobre causas anteriormente desconhecidas da Covid longa. Acredita-se que ela esteja relacionada a baixos níveis sanguíneos de duas classes específicas de anticorpos, o que desencadeia uma resposta imune enganosa.

Fatores que aumentam o risco de Covid longa também são a idade, um número elevado de sintomas na fase inicial da infecção e asma. A identificação precoce da Covid longa poderia facilitar o desenvolvimento de novas opções de tratamento mais específicas, afirma o epidemiologista.

Saúde mental e o impacto social da Covid

Os estudos não estão focados apenas na saúde física dos pacientes de Covid. Vários grupos estão tentando analisar os efeitos da pandemia em nossa psique e a maneira como o isolamento aumentou os problemas mentais – como a depressão, o abuso de álcool e os distúrbios do sono – na população global.

Um grupo de pesquisaLink externo da Universidade de Berna está tentando criar um “atlas” da saúde mental mundial para determinar a extensão global dos distúrbios mentais ligados à pandemia e a sua relação com a idade, gênero e origem geográfica das pessoas.

Em dezembro de 2022, o FNS lançará um novo programa intitulado “Covid-19 e Sociedade” (PNR 80) para compreender melhor os impactos sociais, econômicos e políticos da pandemia. O programa visa encontrar novas estratégias, mais eficazes, para lidar com as crises sanitárias atuais e futuras. “A pesquisa é crucial para isso, mas só funcionará se pudermos trabalhar com os formuladores de políticas públicas para implementar os resultados”, diz Salathé.

SWI