Publicado em 26 de setembro de 2022 por Tribuna da Internet
Denise Rothenburg
Correio Braziliense
O movimento nos bastidores às vésperas das eleições indica que o Centrão — mais especificamente os partidos PL, o PP e o Republicanos — trabalha para continuar no comando do Orçamento, seja quem for o presidente eleito. A preços de hoje, esses partidos já olham para as pesquisas, se preparando para um possível governo Lula, e as bases que pretendem impor para essa relação, algo muito diferente daquela que se deu em 2002, quando o então PL de Valdemar Costa Neto indicou José Alencar para vice na chapa do petista.
A decisão já tomada no calor da reta final desta campanha é que não haverá alinhamento automático com o petista, caso Lula vença, e caberá ao petista se adaptar aos novos tempos.
TUDO MUDOU – Os aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por exemplo, lembram que o mundo mudou. Quando Lula foi eleito pela primeira vez, há 20 anos, o Poder Executivo dominava o Orçamento e não havia emendas individuais e de bancada de liberação obrigatória. Tampouco as emendas de relator, que Lula abomina, mas uma parte de seus correligionários adota.
Os líderes do Centrão têm dito que, nestes 20 anos, o grupamento ganhou contornos mais ideológicos, ficou mais orgânico e tomou gosto pela gerência orçamentária.
Logo, ainda que o STF venha a propor alguma mudança, a destinação de recursos a determinados projetos faz parte das atribuições constitucionais do Congresso. Ou se Lula vencer, aceita isso ou haverá um embate antes mesmo de 1º de janeiro. O recado, aliás, já foi dado ao comando de campanha petista.
EMENDAS DE RELATOR – Advogados aliados a Lula têm sondado o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o fim das emendas de relator. Ainda não dá para definir um placar, mas a transparência terá que ser absoluta.
Se as projeções das mais diversas consultorias estiverem corretas, a esquerda deve chegar a algo entre 150/170 deputados. E os mais conservadores devem dominar a Câmara. Nesse caso, o Centrão acredita que terá condições de continuar dando as cartas no Parlamento.
Aliás, é justamente essa projeção em favor dos mais conservadores que leva o presidente da Câmara, Arthur Lira, a fazer uma postagem em defesa dos institutos que erram em “demasiado”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Infelizmente, é uma viagem sem volta, porque o governo se tornou refém do Congresso e não adianta chamar a Polícia. Primeiro, o Congresso aprovou o orçamento impositivo, algemando o governo junto com a chave do cofre. Depois, deu o golpe de mestre, ao criar as emendas do relator e o orçamento secreto. É ingenuidade achar que o caminho tem volta. A única coisa que pode acontecer é essa parte do orçamento deixar de ser secreta, conforme a ministra Rosa Weber determinou, mas não foi atendida pelo Congresso. E agora ela é presidente do Supremo e pode recapitular o tenebroso assunto. Vamos aguardar. (C.N.)