A candidata do MDB foi muito cobrada pelos entrevistadores da Globo por seu desempenho como vice-governadora do Mato Grosso do Sul, cargo que exerceu antes de ser eleita senadora
Por Luiz Carlos Azedo (foto)
Para a maioria dos eleitores que acompanharam as entrevistas dos candidatos à Presidência aos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional (Rede Globo), Simone Tebet (MDB) foi uma grata surpresa, quando nada porque era muito menos conhecida do que os seus concorrentes: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que governou por dois mandatos, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, e Ciro Gomes (PDT), que disputa o comando do Palácio do Planalto pela quarta vez.
Simpática, bonita, firme, experiente, segura e com boas propostas, a entrevista serviu para que se descolasse dos caciques do MDB, que podem aumentar sua rejeição sem lhe dar um voto, e tentasse uma conexão direta com os eleitores, até porque não tem outra alternativa. Simone está sendo “cristianizada” abertamente pela ala da legenda engajada na volta de Lula ao poder, principalmente no Nordeste e no Sudeste, e as lideranças do Sul, Centro-Oeste e Norte do país que fazem parte da base de sustentação de Bolsonaro. Não foi à toa que citou como referências da legenda, além de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, apenas os ex-governadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcellos (PE), que estão vivos.
Simone foi muito cobrada pelos entrevistadores da Globo por seu desempenho como vice-governadora do Mato Grosso do Sul, cargo que exerceu antes de ser eleita senadora. Ao responder os questionamentos sobre os índices locais da educação, aproveitou para dizer que será uma das cinco prioridades de seu eventual governo. Repetiu a estratégia quando foi questionada sobre os índices de violência de Mato Grosso do Sul, que atribuiu ao fato de o estado ser a porta de entrada para o tráfico de drogas e de armas, sem que os recursos que deveriam ser destinados ao combate aos crimes de fronteira chegassem ao destino. Propôs a recriação do Ministério da Segurança Pública e a integração das ações dos órgãos federais e estaduais contra o crime organizado em todo o território nacional.
“Nós temos três reformas tributárias importantes no Brasil. Mas a mais importante, hoje, é a do consumo, porque quem mais paga imposto é o pobre, é o que mais consome”, afirmou, usando o tempo da resposta para falar com a população de baixa renda: “Proporcionalmente à renda, quanto você deixa no supermercado? Quanto eu deixo no supermercado? Quanto o pobre deixa no supermercado? Ele deixa metade, um pouco mais da metade do salário. Então, a reforma tributária mais emergente está pronta para votar no Congresso Nacional. Só não votou porque o presidente (Bolsonaro) não quis, porque nós tentamos votar na Comissão de Constituição e Justiça.” Simone falou em aliviar o imposto de renda da classe média e taxar os lucros e dividendos para tirar dos mais ricos.
Segurança familiar
A candidata do MDB luta para se manter no jogo a partir da campanha eleitoral no rádio e na televisão. Larga como uma candidata sem chances de chegar ao segundo turno e em risco de ficar no limbo eleitoral, apesar de tudo isso, por falta de uma campanha eleitoral estruturada de forma robusta. Quando disse que precisa apenas de um microfone e um caixote para fazer campanha, estava se referindo ao fato de poder andar na rua sem provocar reações de petistas e bolsonaristas, um pouco por sua fraqueza eleitoral e muito por ser mulher num universo de disputa machista e polarizado.
Além da educação, segurança e reforma tributária, Simone apontou como prioridades a saúde e a geração de trabalho e renda. Defendeu um programa econômico liberal, cujas propostas mais inovadoras são uma poupança popular para os trabalhadores informais, que serviria como uma espécie de Fundo de Garantia, além de uma poupança para os jovens, que poderia ser sacada quando concluíssem o ensino médio.
Simone está como um foguete que volta do espaço sideral para a atmosfera: se não pegar o ângulo correto na propaganda de rádio e tevê, pode resvalar e ficar perdida no espaço. Sua única possibilidade para crescer é deslocar Ciro, que tem pouco tempo de televisão — porém, o candidato do PDT é muito mais conhecido e resiliente.
Tem duas semanas para fixar sua imagem e romper a bolha em que se encontra. No último Datafolha, de 18 de agosto, Lula contava com 47% das intenções de voto no primeiro turno; Bolsonaro (PL), com 32%; e Ciro, em terceiro, com 7%. Só uma grande alteração nesse quadro pode abrir espaço para Simone crescer, pois larga com 2%.
Por isso, tenta explorar o protagonismo feminino e o foco nas crianças e nas famílias. Numa situação social como a que o país vive, a desestruturação das famílias de baixa renda é uma realidade muito cruel que Bolsonaro explora pelo ângulo dos costumes, mas que exige uma abordagem em termos de políticas públicas. Simone associa a segurança familiar às políticas de educação, saúde, segurança pública, trabalho e renda, com uma narrativa na qual se apresenta maternalmente. As pesquisas dirão se vai funcionar.
Correio Braziliense