Publicado em 24 de agosto de 2022 por Tribuna da Internet
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Boslonaro negou fatos concretos dos quais ele próprio participou
Pedro do Coutto
Foi um desastre completo, sobretudo em matéria de conquista de votos de eleitores indecisos, a entrevista do presidente Jair Bolsonaro a William Bonner e Renata Vasconcelos na noite de segunda feira na TV Globo. O presidente da República negou fatos concretos dos quais ele próprio participou e também de ofensas que dirigiu a ministros do Supremo, as quais ele procurou negar, evitando admitir a resistência a compra de vacinas contra a Covid-19 e ainda condicionou o respeito aos resultados das urnas em outubro à lisura dos votos recebidos e computados pela Justiça Eleitoral.
A condicionante revela claramente que as afirmações feitas no final da semana passada sobre o acatamento ao resultado foi apenas um lance, pois confrontado com cerca de 30 de milhões de espectadores, Bolsonaro se esquivou do compromisso firme e direto. Quer dizer, se ele achar que não houve transparência e lisura já não está mais aí o autor do compromisso formal.
ENCONTRO – Era difícil, realmente, que Bolsonaro recuasse do seu verdadeiro projeto de poder, já que todos os dias praticamente o ministro Paulo Sérgio Nogueira acrescenta uma solicitação a mais ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes. Ontem mesmo, foi marcado o encontro do ministro da Defesa com o presidente do TSE. No momento em que escrevo, ainda não havia resultado do encontro.
Mas eu disse que foi um desastre a entrevista de Bolsonaro. Continuou negando a eficiência da vacina, propagando ainda possíveis informações falsas sobre a mesma. O voto dos eleitores radicais não será afetado, porém há uma faixa de eleitores indecisos e essa faixa poderá ser atingida por uma dúvida ainda maior sobre a viabilidade eleitoral de Bolsonaro nas urnas de outubro.
Em matéria de eleição, um ponto percentual pode afetar o resultado geral, podendo decidir se a eleição poderá ser definida no primeiro ou no segundo turno. Tenho a impressão de que a perda de votos de Bolsonaro, por menor que seja, será real e isso poderá representar uma importância enorme no embate com Lula da Silva.
CASO DOS PASTORES – A entrevista abordou temas contundentes. O caso dos pastores do MEC foi um deles. O caso das ofensas a ministros do STF, outro. A participação de manifestantes na Esplanada de Brasília com bolsonaristas pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso Nacional também. Sobre isso, Bolsonaro disse que não poderia impedir a manifestação de seus companheiros.
Sob a sua administração, o Ministério da Educação já teve quatro titulares. Um desastre absoluto, incluindo a questão dos pastores. Sobre o Centrão, Bolsonaro hoje o aceita e diz que em seu tempo na Câmara o Centrão não existia.
INFLAÇÃO – O Orçamento para o exercício de 2023, matéria de Gabriel Shinohara, O Globo de segunda-feira, formulado pela equipe de Paulo Guedes e também pelo Banco Central, prevê uma inflação – vejam só – de 5,3% em 2023, quando nos últimos 12 meses ela passou de 10%, de acordo com o IBGE.
Para a meta de 5,3% o esforço do IBGE e do BC terá que ser muito maior, mas não importa aos portadores da falsa bola de cristal, pois essa projeção inflacionária só vai valer até as urnas de outubro. Depois disso, Paulo Guedes está descompromissado com a previsão, da mesma forma que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Bolsonaro, em sua entrevista, chegou a falar na deflação em seu governo de 0,68% encontrada no mês de julho, o que não significa nada, pois sobre qual número absoluto? Além disso, a deflação só poderia ocorrer se fosse com base de julho de 2021 a julho de 2022. Fora isso, qualquer índice será aditivo.