sábado, julho 30, 2022

A opção de Bolsonaro é barbarizar




Datafolha mostra quadro travado, estelionatos eleitorais ainda não fazem efeito

Por Vinicius Torres Freire

Entre os eleitores que recebem o Auxílio Brasil, 45% consideravam o governo de Jair Bolsonaro "ruim ou péssimo" em maio. No Datafolha deste final de julho, eram 40%. Dada a margem de erro da pesquisa para esse grupo, pode ser que essa variação seja desprezível.

O dinheiro do novo Auxílio Brasil começa a pingar neste mês, com mais um pagamento até o primeiro turno. Ainda que muita gente deva estar informada do aumento do benefício, é possível que o dinheirinho vivo na mão possa fazer alguma diferença no voto. Quanto?

A julgar por outros números do Datafolha, não muita. Se essa era a carta maior que a campanha bolsonarista e seus aliados tinham não mão, vão precisar meter a mão no baralho a fim de mudar votos.

No geral, 71% dos eleitores dizem estar "totalmente decididos" a respeito do seu voto. Entre os que recebem o Auxílio Brasil, a decisão é firme para 69%. Tanto entre os eleitores de Lula da Silva (PT) como entre os Bolsonaro, os que declaram uma decisão irrevogável são 79%.

Uma possível mudança de voto não favoreceria, no geral, Bolsonaro. Dos votos mutantes, 24% do total iriam para Ciro Gomes (PDT), 19% para Lula e 14% para Bolsonaro, que neste caso não ganharia mais do que 4 pontos percentuais, ficando bem longe ainda do petista. Entre os que recebem Auxílio Brasil, 21% dos que podem mudar de voto escolheriam Lula como alternativa.

Além disso, há uma parcela considerável de eleitores que podem trocar Lula por Bolsonaro e vice-versa, talvez com alguma vantagem para o petista. Para 25% dos bolsonaristas que ainda podem mudar de voto, a alternativa seria Lula. Para 19% dos lulistas, a alternativa seria Bolsonaro.

A rejeição de Bolsonaro é outro problema para sua candidatura. No geral, é de 53% (os eleitores que não votariam nele "de jeito nenhum"), o que não tem mudado de modo relevante faz tempo.

Um aspecto interessante da rejeição é que, mesmo nas grandes regiões do país em que Bolsonaro ao menos empata com Lula, dada a margem de erro, como no Sul e no Centro-Oeste, há quase uma maioria com aversão ao presidente: 48% não votam nele "de jeito nenhum".

Além disso, Bolsonaro perde um segundo turno mesmo para Ciro Gomes, por 51% a 38% (no caso da disputa com Lula, a derrota é de 55% a 35%). Note-se que, no primeiro turno, Lula tem 47%, Bolsonaro 29% e Ciro 8% (nos votos válidos, Lula tem 52%; Bolsonaro, 32%). Mesmo na hipótese de Lula se desvanecer no ar, ora haveria uma debandada para Ciro, contra Bolsonaro.

Não se trata de fazer prognóstico ou dizer que a eleição está decidida ou uma tolice assim.

Há elementos que chamam a atenção, de fato: ainda quase nenhum efeito do Auxílio Brasil e de estelionatos eleitorais, o alto grau de decisão do voto, o baixo número de nulos, brancos e indecisos e a rejeição a Bolsonaro.

Além disso, a avaliação positiva do governo jamais foi boa, jamais passou de 37% de "ótimo ou bom", no auge do auxílio emergencial gordo, em 2020. Bolsonaro jamais perdeu o apoio de pelo menos 22% do eleitorado, aqueles que lhe davam nota "ótimo ou bom", o que ajudou a evitar o seu impeachment.

Quanto a prognósticos, esse quadro travado pode dar uma pista para pensar o que a campanha bolsonarista pode fazer. Não pode esperar para ver se o Auxílio Brasil vai fazer diferença. A situação econômica não vai mudar de modo relevante até outubro e menos ainda a percepção do que o governo fez a respeito.

Quanto a estelionatos eleitorais (favores), haveria tempo apenas para os mais alucinados, embora alucinado seja a palavra-chave aqui. Para o bolsonarismo, resta pouco mais do que barbarizar ainda mais na campanha.

Folha de São Paulo