segunda-feira, maio 30, 2022

Sociedade tem de protestar contra o Brasduto, que já foi anexado à privatização da Eletrobras

Publicado em 30 de maio de 2022 por Tribuna da Internet

Processo de capitalização da Eletrobras foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União em 18 de maio

Capitalização da Eletrobras inclui jaboti de R$ 100 bilhões

Luiz Eduardo Barata.

Apesar de, no início da implantação da energia elétrica no Brasil, termos utilizado fontes térmicas e de a responsabilidade pela prestação dos serviços estar a cargo de empresas estrangeiras, a partir da década de 1950 passamos a explorar intensamente nosso potencial hidrelétrico. Criamos empresas federais responsáveis pela geração bruta e pela transmissão da energia elétrica produzida pelas usinas hidrelétricas para as regiões de consumo.

Esse movimento também teve a participação das grandes concessionárias estaduais de energia elétrica e se intensificou ainda mais com a construção de Itaipu Binacional, inaugurada em meados da década de 1980.

MUDANÇA DA MATRIZ – Até o fim do século passado, nossa matriz elétrica continuou substancialmente hidrelétrica, com pequena participação térmica a carvão e óleo e de biomassa. Após a crise de abastecimento no início deste século, obrigando o país a implantar um regime de racionamento para quatro das cinco regiões — Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste —, aumentamos a presença das fontes térmicas na matriz elétrica, com uso ainda de combustíveis líquidos e gás natural.

Afortunadamente, mais uma vez a natureza nos socorreu e, com o desenvolvimento e o barateamento das fontes eólicas e solares, podemos contar com a produção de energia limpa e muito mais barata que a gerada por fontes térmicas. Esse é o caminho percorrido pelos países mais avançados.

A matriz brasileira hoje conta com 62% de fontes hidrelétricas, 8,7% de fontes térmicas a gás, 2,5% de óleo combustível, 1,7% de carvão e 8,5% de biomassa, além de 1,1% nuclear e por fim, mas não menos importante, 12,3% de fonte eólica e 2,8% solar e 0,4% de outras fontes. Importante observar que o potencial para o avanço das fontes eólica e solar é imenso, dadas as características do país.

TUDO ERRADO – Entretanto, o que vimos recentemente, para surpresa e tristeza nossa, foi o poder político sucumbir à pressão de lobbies e assumir o papel de planejador do sistema, obrigando a instalação de 8 GW de usinas térmicas a gás natural e determinando que elas fiquem onde não há gás nem consumo de energia elétrica.

É importante destacar que o Brasil tem enorme tradição no planejamento de sistema elétrico, hoje sob responsabilidade da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Para completar a tragédia anunciada, acompanhamos com preocupação os movimentos e os lobbies no Congresso Nacional para a implantação de mais um “jabuti” já chamado de Brasduto — uma rede de gasodutos para levar o gás às regiões onde se pretende instalar térmicas a gás e não há gás. O projeto é estimado em R$ 100 bilhões.

NADA CONTRA – Todos sabemos ser um projeto antigo levar gás para empresas distribuidoras das regiões Norte e Centro-Oeste. Nada contra a expansão do mercado nessas regiões. O que não pode ocorrer em hipótese alguma é o desenvolvimento ser feito à custa dos consumidores de energia elétrica.

É o momento de todas as forças comprometidas com o desenvolvimento do Brasil — preocupadas com o meio ambiente, o crescimento da economia e, sobretudo, com os consumidores brasileiros, que pagam uma das maiores tarifas de energia elétrica do mundo — se unirem dizendo “não” ao projeto de instalação do Brasduto, bem como apoiando o cancelamento da instalação dos 8 GW de térmicas onde não temos gás nem carga para consumir essa geração.

O Brasil é afortunado. Infelizmente, nossas lideranças atuais não estão à altura da grandeza e da fortuna do país.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Luiz Eduardo Barata é consultor do Instituto Clima e Sociedade, foi diretor-geral do Operador Nacional do Sistema e presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, Seu artigo nos mostra que, em matéria de geração de energia, o governo simplesmente nada faz ou faz tudo errado. É lamentável. (C.N.)