É difícil que Lula atraia o eleitor de centro sem se mover para o centro. Ele ainda não se deu conta que o ‘timing’ pode ser crucial
Por Rogério F. Werneck (foto)
A menos que ainda possamos vir a contar com superpoderes de Simone Tebet, o que nos aguarda em outubro é o que mais se temia: um mano a mano entre Lula e Bolsonaro. Sairá vitorioso quem conseguir conquistar, em encarniçado segundo turno, apoio decisivo dos eleitores de centro que ainda resistem à escolha entre os dois candidatos.
É dessa perspectiva que se afigura a cada dia mais intrigante resistência de Lula a dar demonstrações claras e inequívocas de que está disposto a se mover para o centro do espectro político. E, nunca é demais insistir, tal movimento teria que se dar ao longo do eixo que verdadeiramente importa, que é o da condução da política econômica.
Sobre isso, Lula continua fechado em copas. E o pouco que deixa entrever, em esparsas declarações à mídia, só contribui para reforçar a percepção de que ele continua resistindo a se mover para o centro e, pior, propenso a se mover para a esquerda.
Em suas breves menções ao teto de gastos, à política de preços de combustíveis e à reforma trabalhista, por exemplo, só há referências ao que será desfeito, desmontado e desmantelado. Nenhum esclarecimento sobre o que será posto de pé ao cabo do bota-abaixo.
O suposto esforço de tranquilização do empresariado quanto à condução da política econômica, a que o candidato estaria recorrendo, tem sido pautado pelo amadorismo, para dizer o mínimo. A começar pela estranha escolha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha como representante hábil de Lula nessa complexa interlocução.
A verdade é que o movimento de Lula em direção ao centro, no eixo da condução da política econômica, exigiria um grau de sutileza e sintonia fina que os economistas do partido não estão em condições de assegurar.
A maior parte deles ainda permanece de luto fechado, imersos em lamentações pelo sexto aniversário do impeachment de Dilma Rousseff, vociferando contra tudo que ocorreu com a condução da política econômica desde que a ex-presidente teve de desocupar o Palácio do Planalto.
O problema é que falta muito pouco tempo para o primeiro turno da disputa presidencial. E Lula continua brincando com a sorte, certo de que conseguirá atrair o eleitor de centro, na maciota, sem se mover para o centro. E até se dando ao luxo de se mover para a esquerda.
Ainda não se deu conta de que o timing do movimento para o centro pode ser crucial. Se for deixado para o último momento e tiver de ser feito às pressas, perderá a credibilidade necessária para que pareça convincente.
Lula está convicto de que a escolha de Geraldo Alckmin como candidato a vice é o que lhe basta para atrair eleitores de centro. Ledo engano. Candidato a vice nunca foi garantia de compromisso com a adoção de uma política econômica ponderada. Ter tido Michel Temer como vice não impediu que Dilma Rousseff aprontasse o que aprontou.
Há poucos dias (24/5), Lula declarou à rádio Mais Brasil News que “governo sério não precisa de teto de gastos”. Tendo em vista que o teto de gastos foi a saída que se encontrou para retirar o país do pavoroso atoleiro fiscal em que foi deixado pelo último governo petista, seria um avanço se, dessa declaração de Lula, se pudesse depreender que ele reconhece, afinal, que não houve governo sério no deplorável mandato e meio de Dilma Rousseff.
Mas Lula nem mesmo entendeu que suas alusões ao teto de gastos só servem para evocar esse descalabro final dos 13 anos de governos petistas.
Parece paradoxal, mas a verdade é que, mais seguro agora, por ter Alckmin como vice na chapa, Lula passou a se permitir um discurso econômico ainda mais à esquerda. Declarou à mesma rádio que “o teto de gastos foi uma forma que a elite econômica brasileira e que a elite política fez para evitar que o pobre tivesse aumento nos benefícios, nas políticas sociais, na educação, na saúde, para garantir que os banqueiros não deixem de receber as coisas que o governo deve para ele.”
É com esse discurso populista, espantosamente obtuso, que Lula pretende conquistar eleitores de centro? O que Alckmin terá a dizer sobre isso?
O Globo