Publicado em 30 de abril de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, e o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, reagiram contra os ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro, considerando que tal ofensiva, no fundo, representa uma ameaça ao regime democrático do país e ao resultado das eleições de novembro.
Reportagem De Julia Lindner, Marianna Muniz, Daniel Gullino, Alice Cravo e Jussara Soares, O Globo desta sexta-feira, focalizam amplamente a reação do Congresso à sombra que Bolsonaro recoloca sobre o destino democrático do país, dando margem a que se suponha um projeto de golpe militar caso seja derrotado por Lula da Silva nas urnas de novembro.
COMEMORAÇÃO – A reação de Pacheco e Lira estende-se também à clara agressão do presidente da República ao Supremo Tribunal Federal ao promover uma comemoração no Palácio do Planalto em homenagem ao deputado Daniel Silveira exibindo o indulto assinado, cujo decreto transformou num quadro que presenteou o deputado do PTB.
Bolsonaro deixou ainda mais clara sua ofensiva contra as instituições porque não pode haver explicação para que um presidente da República faça exaltação e um deputado que atacou ministros do Supremo, ameaçando-os até de agressão física e também destacando um ataque ao STF como um todo, unindo-se assim aos que meses atrás, em manifestação na Esplanada de Brasília, ostentavam faixas propondo uma ditadura militar com Bolsonaro, o fechamento do Supremo e também do Congresso.
Rodrigo Pacheco e Arthur Lira manifestaram a reação de praticamente todos os parlamentares contra as colocações de Bolsonaro, inclusive porque, conforme escrevi há poucos dias, se concretizada uma ruptura democrática, os deputados e senadores perderiam os seus mandatos com o governo, não mais necessitando deles para aprovar leis e emendas constitucionais.
APOIO – Senadores e deputados de vários partidos apoiaram a reação dos presidentes do Senado e da Câmara Federal. A reação de Pacheco e de Lira surpreendeu certamente o presidente da República que sentiu que perdeu votos com a glorificação que praticou colocando Daniel Silveira num pedestal contra a Constituição e contra as leis do país.
Não se trata de liberdade de expressão, mas sim de uma investida antidemocrática, uma ameaça à integridade dos ministros do STF e o descumprimento ostensivo das determinações de Alexandre de Moraes.
Os senadores e deputados revelaram terem sido tocados tanto pela necessidade de defender o processo eleitoral, quanto pela própria sobrevivência da democracia. O presidente da República certamente não contava com a intensidade da reação de seus aliados, os quais, aliás, em consequência, devem afastar o apoio à reeleição de Bolsonaro, que perde votos há cinco meses nas urnas de novembro.
DÍALOGO – Numa sabatina realizada pela Folha de S. Paulo e pelo portal Uol na quarta-feira, reportagem de Carolina Linhares, Folha de S.Paulo, o ex-governador João Doria defendeu uma diálogo com Lula da Silva em nome da preservação da democracia no país e pela derrota de Bolsonaro nas eleições.
A Folha de S.Paulo e o Uol estão realizando debates com os pré-candidatos à Presidência da República deste ano. A sabatina foi conduzida por Fabíola Cidral, pelo jornalista Josias de Souza, e pela jornalista Cátia Seabra.
“Não há razão para não se manter diálogo com Lula, com o PT e com partidos da esquerda e da direita, pois se trata da defesa do regime e o fato de que a democracia pressupõe o diálogo. Tenho posições muito distantes do PT, mas isso não impede que mantenha uma posição respeitosa com esse partido. Só nos regimes autoritários é que não existe o diálogo”, afirmou.
SEGUNDO TURNO – Doria rejeitou a hipótese de apoiar Lula no primeiro turno, mas não negou tal perspectiva quanto ao seu posicionamento num eventual segundo turno. João Doria acrescentou que a unidade da terceira via é um trabalho em progresso e o importante é que o diálogo continue para proteger o Brasil e encontrar uma alternativa para a polarização entre Lula e Bolsonaro.
Relativamente à rejeição ao seu nome para presidente, João Doria atribui ao resultado de uma máquina de destruição bolsonarista que sistematicamente o vem atacando sem cessar através do tempo.