sexta-feira, abril 29, 2022

Com a glorificação de Silveira, Bolsonaro inicia campanha para um golpe militar em novembro

Publicado em 29 de abril de 2022 por Tribuna da Internet

Bolsonaro ostenta cópia do decreto que indultou Silveira

Pedro do Coutto

Com o evento na tarde de quarta-feira no Palácio do Planalto, praticamente glorificando, abraçando o deputado Daniel Silveira e ao mesmo tempo dirigindo manifestação contra o Supremo Tribunal Federal e a imprensa, o presidente Jair Bolsonaro iniciou concretamente a campanha  de um golpe militar em novembro, logo após as eleições presidenciais deste ano.

Como revelou a reportagem de Alice Cravo, Julia Lindner, Daniel Gullino, Jussara Soares e Mariana Muniz, manchete principal da edição de O Globo de quinta-feira, ficou nítido o projeto do Planalto de partir para uma tentativa de ruptura democrática que só pode ser obtida por um golpe militar.

DESFECHO IMPREVISÍVEL – Sentindo-se atrás nas pesquisas do Datafolha e do Ipec, o presidente da República partiu para um desfecho imprevisível, pois não é possível que sem qualquer sentido menos aparente ele possa destacar a atuação do deputado.

Na primeira página de O Globo, Bolsonaro aparece ostentando uma cópia do decreto que indultou Silveira, o que representa uma clara agressão aos dez ministros do STF que condenaram o parlamentar do PTB. Bolsonaro quis de fato demonstrar que concorda com os ataques  de Daniel Silveira dirigidos ao Supremo e ao ministro Alexandre de Moraes em particular.

Silveira propõe o retorno ao Ato Institucional nº 5 de 1968. Deixando flagrante o seu apoio a quem foi condenado pela justiça, Bolsonaro mais uma vez tornou evidente, desta vez com tintas mais fortes, o seu projeto político de reeleição, que antes da ideia do golpe militar, passa pelas urnas democráticas do país.

GOLPE – Dando mais força à perspectiva de golpe militar, Jair Bolsonaro defendeu uma apuração paralela das Forças Armadas nas eleições de novembro. Ao defender tal ideia, Bolsonaro afirmou que a lisura das apurações não pode ser assegurada numa sala secreta do TSE em que apenas 12 técnicos participam dos trabalhos. Ele propõe então que as Forças Armadas também possam contar os votos no Brasil e estimulou a desconfiança ao Tribunal Superior Eleitoral.

Ao propor a apuração paralela de votos pelas Forças Armadas, o presidente da República voltou-se integralmente contra a Constituição do país. Portanto, não pode ser outro o seu objetivo a não ser o de que, derrotado nas urnas nas quais ele não confia, partirá para uma ação que no seu projeto reúne o Exército, a Marinha e a Aeronáutica.

Diante da colocação feita ao TSE, o ministro Edson Fachin deverá responder ao inusitado pronunciamento. Da mesma forma, as lideranças militares deverão se manifestar indiretamente no sentido de fortalecer a democracia e o resultado das urnas que está ligado a ela de forma plena e total.

MOBILIZAÇÃO – Como se observa, a tempestade começou forte nas áreas da Esplanada de Brasília sopradas pelo plano alto do Planalto. Serão tempos difíceis os que começaram a ocorrer mais intensamente a partir desta semana. Na minha opinião, deve haver uma mobilização de todos os pré-candidatos em favor da democracia e do eleitorado porque não tem o menor cabimento usar o caminho do voto para chegar ao poder e recorrer à estrada das armas para nele se manter.

Todos os democratas, inevitavelmente, foram atingidos pela consagração a Daniel Silveira. O alvo principal, vejam as passeatas na Esplanada dos Ministérios, é o STF. Porém, a hipótese de um golpe militar atinge igualmente o princípio da liberdade e a existência do próprio Congresso, pois formalizada a ditadura, senadores e deputados federais nada a terão a fazer.  O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, compreendeu o peso da atmosfera e ontem mesmo pronunciou-se na defesa do regime democrático.

UMA PEÇA DE HUMOR –  Foi uma peça de alto humor, pelo conteúdo, pelo estilo e pelo fato, o artigo do meu amigo Ruy Castro publicado na quinta-feira, na Folha de S. Paulo, cujo título foi “Os brutos também amam”, fazendo uma associação ao faroeste de Hollywood, de 1954, sob a direção de George Stevens e o fato recente ocorrido com o ex-ministro Milton Ribeiro.

Ele, ao portar uma arma de fogo, deveria estar preparado para a possibilidade de algum  conflito que inesperadamente pudesse tê-lo como alvo. Mas com a arma dentro de sua valise de viagem, não poderia reagir de plano a qualquer ataque que lhe fosse desfechado.

Ruy Castro coloca bem o assunto e dá para se acrescentar a pergunta: quem seriam os inimigos capazes de promover um duelo igual ao que no filme reuniu Alan Lade e Jack Palance ?