segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Putin põe forças nucleares em alerta máximo; Ucrânia aceita encontrar diplomatas russos




Imagem mostra Vladimir Putin fazendo anúncio sobre força nuclear russa neste domingo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse neste domingo (27/2) que está colocando a força nuclear estratégica da Rússia em "alerta especial" — o nível mais alto.

Em conversa com oficiais militares, incluindo o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, Putin disse que as nações ocidentais tomaram "ações hostis" em relação à Rússia e impuseram "sanções ilegítimas".

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, reagiu ao anúncio de Putin afirmando que em nenhum momento a Rússia esteve sob ameaça da Otan.

"Nós o vimos fazer isso várias vezes. Em nenhum momento a Rússia esteve sob ameaça da Otan ou esteve sob ameaça da Ucrânia", disse ela à ABC News.

"Isso tudo é um padrão do presidente Putin e vamos enfrentá-lo. Temos a capacidade de nos defender, mas também precisamos chamar a atenção para o que estamos vendo aqui vindo do presidente Putin", acrescentou.

A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que a atitude de Putin é "inaceitável".

"Isso significa que o presidente Putin continua a escalar esta guerra de uma maneira totalmente inaceitável e temos que seguir contendo suas ações da maneira mais forte possível", disse ela em entrevista à CBS News.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a ordem de Putin é "perigosa" e "irresponsável".

"É claro que quando você combina essa retórica com o que eles estão fazendo na Ucrânia — travando uma guerra contra uma nação independente e soberana, conduzindo uma invasão completa da Ucrânia — isso aumenta a gravidade da situação", disse ele à CNN.

Encontro entre russos e ucranianos

Quase na mesma hora do anúncio de Putin, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que está disposto a enviar uma delegação ucraniana para conversar com uma delegação diplomática da Rússia na fronteira entre Ucrânia e Belarus.

"Concordamos que a delegação ucraniana se reuniria com a delegação russa sem pré-condições [estabelecidas] na fronteira ucraniana-bielorrussa, perto do rio Pripyat", afirma um comunicado de Zelensky emitido poucas horas depois de o presidente ucraniano conversar com o líder de Belarus, Alexander Lukashenko, por telefone.

"Alexander Lukashenko assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis posicionados em território bielorrusso permaneçam no solo durante a viagem, as conversas e o retorno da delegação ucraniana."

Zelensky havia dito anteriormente que não se encontraria com uma delegação russa em território bielorrusso porque a invasão da Rússia foi lançada em parte via Belarus.

Nem a Rússia nem Belarus emitiram declarações sobre possíveis negociações.

Horas após o anúncio das conversas, mísseis Iskander foram lançados de Belarus em direção à Ucrânia, segundo um assessor do ministro do Interior da Ucrânia.

Anton Herashchenko postou um vídeo dos mísseis no Facebook.

"Iskanders foram lançados contra a Ucrânia nas proximidades de Mozyr", escreveu ele. "Isso significa que eles causaram morte em algum lugar... Então esse é o tipo de cessar-fogo que temos?"

A Ucrânia também comentou o anúncio de Putin sobre as forças nucleares russas colocadas em alerta máximo.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que se a Rússia usar armas nucleares contra a Ucrânia, isso será uma "catástrofe para o mundo".

"Mas isso não vai nos derrubar", afirmou.

Em entrevista coletiva, Kuleba disse: "Esta ordem do presidente Putin veio logo após o anúncio sobre as duas delegações prontas para se encontrar [para conversas]. Vemos este anúncio ou esta ordem como uma tentativa de aumentar as apostas e colocar pressão adicional sobre a delegação ucraniana."

"Mas não vamos ceder a essa pressão. Abordaremos essas negociações de forma muito simples. Vamos lá para ouvir o que a Rússia tem a dizer e diremos a eles o que pensamos sobre tudo isso".

Ele acrescentou: "A Ucrânia não está capitulando. Estamos sangrando, mas continuamos nos defendendo com sucesso".

Análise de Gordon Corera

Repórter de Segurança da BBC News

O presidente Putin ordenou que seu comando militar coloque as forças nucleares em estado de alerta "especial".

Isso depois de Moscou acusar os países da Otan de darem "declarações agressivas".

O líder da Rússia já havia dado sinais de que estava disposto a usar armas nucleares ao iniciar sua invasão da Ucrânia.

Na semana passada, alertou que "quem tentar nos atrapalhar" verá consequências "que você nunca viu em sua história".

Essas palavras foram amplamente interpretadas como uma ameaça de uso de armas nucleares caso o Ocidente tente intervir.

A mudança pública para o status de alerta máximo é um jeito de Moscou de enviar um recado. A mudança para o status de alerta provavelmente facilita o lançamento de armas mais rapidamente. Mas isso não significa que haja uma intenção real de usá-las.

A Rússia tem o maior estoque de armas nucleares do mundo, mas Moscou sabe que a Otan também tem um arsenal suficiente para destruir a Rússia.

Mas o objetivo de Putin provavelmente é impedir o apoio da Otan à Ucrânia, gerando incerteza sobre até que ponto ele está disposto a ir.

BBC Brasil