Em um tom nada otimista, Macron ratificou as suas mais recentes análises, explicando que já estão consumados os primeiros lances para que uma guerra de grandes proporções venha novamente assolar o mundo. Quando? Isso é impossível responder. A única certeza histórica e factual é que tal confronto global vai ganhando contornos concretos.
Já não importa como será e nem quando ocorrerá o final do conflito armado na Ucrânia — a análise que agora se impõe é outra e maior. O que está em jogo, daqui para frente, é que crises econômicas e eventuais desabastecimentos irão – ainda que aos poucos, ainda que com avanços e recuos – afetar o mundo todo.
Isso se dará em decorrência inevitável das crescentes sanções que a Organização do Tratado do Atlântico Norte imporá à Rússia – e, deixe-se é claro, tais sanções econômicas têm mesmo de ser estabelecidas, ainda que, infelizmente, elas causem, se tanto, leves arranhões aos planos totalitários e expansionistas de Vladimir Putin. Mas elas são, pelo menos, uma forma de reação às alucinações ditatoriais do presidente russo.
Eis uma das medidas mais radicais e direcionadas pessoalmente a Putin e ao seu chanceler, Serguei Lavrov: os EUA e a União Européia os incluirão no rol dos indivíduos que poderão ter seus bens bloqueados em toda a Europa. Sem dúvida, é uma subida de tom na reação do Ocidente, mas de pouco impacto: a vida financeira de Putin não será afetada, uma vez que ele não possui bens declarados no exterior — e, vale observar, não os possui porque, maquiavelicamente, sempre planejou tocar para frente sua política beligerante e autoritária. E sabe que o confisco de seus bens fora da Rússia há tempo está em pauta.
Ainda assim, mesmo sem se sentir atingido, Putin mandou um duro recado de cunho militar, dessa vez para a Suécia e a Finlândia – como se vê, ele vai engatando um país ao outro, vai tentando aumentar o raio de eventuais confrontos. O que Putin declarou foi o seguinte: se Finlândia e Suécia se movimentarem em direção à Organização do Tratado do Atlântico Norte, deixando de lado a sua histórica neutralidade, tal ato terá “consequências político-militares que necessitarão de resposta”.
O Ocidente precisa dar o troco à covarde iniciativa de Putin de invadir a Ucrânia, tenha ele maior ou menor eficácia – o que não pode é deixar a Rússia sem nenhuma punição, até porque o ex-agente da KGB Putin não é o dono do mundo. Putin, por sua vez, já está fixando que pretende arranjar mais encrenca militar pela frente, envolvendo Finlândia e Suécia. Por meio de pequenas escaramuças – sejam verbais, sejam armadas – a paz vai sendo assassinada por Putin. Daqui para frente, a animosidade da Rússia, sempre latente, começará a se manifestar cada vez com maior atrevimento. É essa guerra de guerrilhas a formadora de uma grande guerra.
A guerra na Europa já começou.
POR ANTONIO CARLOS PRADO
Revista IstoÉ / Daynews