segunda-feira, fevereiro 28, 2022

A ajuda militar sem precedentes enviada por EUA e Europa à Ucrânia




Soldado ucraniano em Járkiv, no leste do país: militares receberão de coletes a mísseis antitanque

Nas últimas horas, várias países anunciaram remessas de armamentos para o Exército ucraniano

"Preciso de munição, não de uma viagem", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na sexta-feira (25/6), ao rejeitar uma oferta dos Estados Unidos para resgatá-lo da Ucrânia.

Seu pedido aparentemente foi ouvido pela comunidade internacional.

À medida que a invasão russa da Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro, continua, vários países prometeram apoio enviando armas ao país, um movimento sem precedentes, com mudança importante de posição por parte da Alemanha.

Em números

No sábado (26/2), Estados Unidos, Alemanha, Austrália, França e Holanda anunciaram remessas de armas para a Ucrânia.

O Departamento de Estado americano se comprometeu com o equivalente a US$ 350 milhões em armas, incluindo mísseis antitanque Javelin, sistemas antiaéreos e coletes à prova de balas.

A Alemanha confirmou que forneceria à Ucrânia mil lançadores de granadas antitanque e 500 mísseis Stinger e, em paralelo, anunciou a suspensão do bloqueio para envio de armas de fabricação alemã por meio de outros países.

A decisão marca uma mudança importante e poderia abrir espaço para um aumento da ajuda militar à Ucrânia vinda de outros países do continente. Isso porque uma parte das armas fabricadas na Europa são pelo menos parcialmente manufaturadas na Alemanha - o que significa que o país pode interferir na decisão de enviá-las a outras regiões.

A Holanda, por sua vez, anunciou que entregaria 50 armas antitanque Panzerfaust-3 e 400 foguetes.

Alemanha e Holanda estudam ainda enviar um sistema de defesa aérea conjunto Patriot para um grupo de batalha da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Eslováquia, que faz fronteira com a Ucrânia.

A aliança militar tem enviado tropas para o leste europeu "para responder rapidamente a qualquer contingência".

No domingo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou que a União Europeia, pela primeira vez em sua história, compraria armamentos para entregar a uma nação em guerra.

Ao anunciar o fornecimento de armas à Ucrânia, Leyen também divulgou uma série de novas sanções contra a Rússia, entre elas o fechamento do espaço aéreo europeu para aeronaves do país, e contra a vizinha Belarus, considerada cúmplice da invasão russa.

Horas depois, a Suécia informou que enviaria 5 mil lançadores de mísseis antitanque, 5 mil coletes, 5 mil capacetes e 135 mil pacotes de ração militar aos ucranianos.

Segundo a primeira-ministra do país, Magdalena Andersson, esta é a primeira vez que a Suécia manda armas para uma região em conflito desde a invasão soviética à Finlândia em 1939.

Mudança de postura

O anúncio da Alemanha de enviar armas à Ucrânia marca uma mudança histórica em sua política de ajuda militar.

Até sábado, o país mantinha uma prática de longa data de bloquear o envio de armas letais para zonas de conflito.

No sábado (26/2), contudo, o chanceler alemão, Olaf Scholz, declarou que a invasão russa à Ucrânia configurava um ponto de virada.

"O ataque russo contra a Ucrânia marca uma mudança de era. Ameaça toda a ordem do pós-guerra. Nessa situação, é nossa obrigação apoiar a Ucrânia com o melhor de nossa capacidade de defesa contra o exército invasor de Vladimir Putin", disse, em comunicado, o primeiro-ministro.

A coalizão de três partidos que forma a base do governo na Alemanha - e que reúne um grupo heterogêneo de socialistas, liberais e "verdes" - enfrentou dificuldade para formular uma resposta coerente à invasão da Ucrânia.

O país tem uma relação complexa com a Rússia, com quem tem laços econômicos e culturais, explicada em parte por sua dependência do gás natural russo. No passado, a Alemanha já se demonstrou reticente em se indispor publicamente com um de seus principais fornecedores de matéria-prima para produção de energia.

Diante da crise atual, contudo, figuras públicas que expressavam simpatia por Moscou calaram ou afirmaram que estavam erradas.

'Alemães foram às ruas de Berlim protestar contra a invasão'

A população alemã, por sua vez, demonstrou surpresa e choque diante das ações do presidente de Putin e exigiu que o governo tomasse medidas mais duras contra o Kremlin.

Neste domingo (27/2), mais de 100 mil pessoas, conforme os números divulgados pela polícia alemã, foram às ruas de Berlim em solidariedade à Ucrânia e em oposição à invasão russa.

"Nosso mundo está diferente após o ataque de Putin. Embora estejamos atordoados com essa violação da lei internacional, não somos impotentes", escreveu no Twitter a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock.

"É por isso que vamos ajudar os soldados ucranianos que estão lutando por seu país com armas antitanque e mísseis Stinger", acrescentou.

A Alemanha é um dos principais produtores e exportadores de armas do mundo. Entre 2016 e 2020, as vendas do país nesse segmento cresceram 21%, de acordo com o Stockholm International Peace Research Institute.

Os principais destinos foram Coreia do Sul, Argélia e Egito, conforme a agência de notícias alemã Deutsche Welle.

A Ucrânia também compra armas da Alemanha. Entre 2020 e até o primeiro semestre de 2021, a Alemanha registrou 97 embarques para o país, totalizando US$ 5,8 milhões (especialmente de pistolas e dispositivos de comunicação), segundo relatórios do governo.

Damien McGuinness, correspondente da BBC em Berlim, descreveu os últimos acontecimentos como "a maior mudança na política externa alemã desde o fim da Segunda Guerra".

Além do envio de armas à Ucrânia, ele cita a liberação de US$ 1,13 bilhões em recursos para o Exército alemão e o compromisso de elevar o orçamento da Defesa aos parâmetros estabelecidos pela OTAN, de 2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Esses dois últimos pontos, destaca McGuinness, eram demandas antigas da OTAN em relação à Alemanha, que demonstrava resistência por preferir a abordagem diplomática e via diálogo do que a militar nos assuntos de política externa.

BBC Brasil