sábado, janeiro 01, 2022

Fake news sobre presidenciáveis proliferam nas redes e desafiam Justiça Eleitoral para 2022


Perigos das fake news

Charge do Duke (O Tempo)

Bernardo Mello e Marlen Couto
O Globo

Conteúdos falsos e enganosos já disseminados nas redes sociais contra pré-candidatos à Presidência, inclusive por agentes públicos e políticos com mandato, antecipam desafios que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as plataformas terão pela frente na campanha de 2022.

A facada sofrida pelo presidente Jair Bolsonaro em 2018, por exemplo, voltou a suscitar, nos últimos meses, teorias conspiratórias de petistas e bolsonaristas que ignoram pontos comprovados na investigação da Polícia Federal (PF), que concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho no ataque.

NOTÍCIAS FALSAS – Ciro Gomes (PDT) sofreu ataques de deputados bolsonaristas, que produziram desinformação com trechos de entrevistas do pedetista. Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB), por sua vez, foram alvos de fake news com elementos de suas vidas privadas veiculados sem embasamento.

O TSE aprovou resoluções para coibir notícias e mensagens falsas sobre o processo eleitoral, e acenou com a possibilidade de cassação de candidaturas que fizerem uso de disparos em massa, precedentes que não existiam na campanha de 2018.

Ainda há, por outro lado, dificuldades e dúvidas sobre o controle exercido pelas plataformas sobre postagens de usuários.

NOIVINHA DO ARISTIDES – No início de dezembro, um suposto xingamento homofóbico que teria sido feito a Bolsonaro mobilizou as redes sociais. No dia seguinte à detenção de uma mulher que xingou o presidente e teria lhe chamado de “noivinha do Aristides”, em Resende, no interior do Rio, o termo disparou no Twitter e no Google. Porém, a ofensa não partiu da suposta autora, mas de um perfil de rede social, o “Felipe do PT”.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) e a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foram algumas das lideranças da esquerda que amplificaram nas redes a versão falsa, atribuindo o episódio a um suposto evento da vida privada do presidente. No boletim de ocorrência, a expressão utilizada pela motorista, detida na Via Dutra, foi “filho da puta”.

CARIMBO DE FALSO – Em novembro, o Instagram chegou a marcar como falso um post em que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) sugeria que Lula havia entregado refinarias da Petrobras à Bolívia sem contrapartida financeira.

Na publicação, Carlos usou trecho de um seminário de 2015 em que o ex-presidente falava sobre relações diplomáticas com a Bolívia quando o país vizinho tentou nacionalizar refinarias.

No trecho em questão, Lula se disse aberto a reconhecer a nacionalização de combustíveis. O vereador escreveu, na legenda, que Lula e o PT “priorizam outros países com seu dinheiro (dos eleitores)”. À época, no entanto, o governo federal não entregou, mas sim vendeu as refinarias.

FACADA DO ADÉLIO – Outros dois filhos do presidente, o senador Flávio (PL-RJ) e o deputado Eduardo (PSL-SP), fizeram publicações no último mês associando o autor da facada em 2018 ao PT e sugerindo que a investigação da PF não chegou a conclusões sobre a autoria do atentado na campanha.

O tema também mobilizou opositores de Bolsonaro. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-aliado de Bolsonaro e hoje apoiador de Doria, afirmou em setembro estar “convencido de que (a facada) foi uma armação”, que teria aproveitado “a doença que esse sujeito tinha na época”. Já o também deputado Rogério Correia (PT-MG), referindo-se a um documentário sobre a facada que utilizou vídeos e imagens de câmeras de segurança, endossou a teoria de armação e disse que a PF “nunca investigou esse lado”.

Dois inquéritos conduzidos pelo delegado Rodrigo Morais, com análise de imagens e de dados de Adélio, concluíram que o agressor agiu sozinho e não estava a mando de terceiros.

TERCEIRA VIA – Além de Lula e Bolsonaro serem alvos de fake news, aliados de ambos têm mirado em adversários que tentam construir a chamada terceira via para tentar romper a polarização entre os dois na próxima eleição. Moro desmentiu recentemente ter pago R$ 50 mil de aluguel numa residência nos Estados Unidos, quando trabalhou para a consultoria Alvarez & Marsal.

A informação, baseada numa comparação de fotos com inconsistências entre si, foi disseminada nas redes para mostrar uma suposta “vida de milionário” do ex-juiz, e foi compartilhada com este viés pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Doria e Ciro já foram alvos de bolsonaristas nas redes em diferentes momentos. No início do ano, nomes como o deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP) e o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) compartilharam um vídeo antigo de uma festa com participação do filho do governador de São Paulo sugerindo que ela teria ocorrido durante a fase restritiva da pandemia da Covid-19. Doria desmentiu a informação e obteve, na Justiça, o direito a receber indenização de uma mulher que gravou outro vídeo, também usado por bolsonaristas, no qual mostrava uma suposta festa na casa de Doria, mas filmando uma casa que não é do governador.

DETURPAÇÃO – Já no caso do pedetista, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) compartilhou de forma distorcida uma entrevista dada em agosto, na qual Ciro defendia rever o currículo de formação de militares. Na publicação, Zambelli alegou que Ciro afirmava “descaradamente” ter intenção de “aparelhamento das Forças Armadas”, com suposta inspiração na Venezuela, o que não se sustenta com o vídeo.

A expectativa é que o TSE terá uma postura mais combativa nas eleições, porque aprovou uma resolução com regras contra a desinformação e fixou entendimento de que disparos em massa com informações falsas podem configurar abuso econômico e gerar cassação.

O tribunal também cassou pela primeira vez um deputado por propagar fake news sobre as urnas eletrônicas e abriu uma investigação contra Bolsonaro por ataques ao processo eleitoral. “O TSE atuou no sentido de criar precedentes para uma atuação mais rigorosa em 2022 e enviar a sinalização para os atores políticos de que não vai tolerar que o pleito seja um vale tudo”, diz o pesquisador Amaro Grassi, da Fundação Getulio Vargas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– O vale-tudo já começou e vai piorar muito em 2022.  O Gabinete do Ódio vai fazer o possível e o impossível para reeleger Bolsonaro(C.N.)