sexta-feira, dezembro 03, 2021

Queda no PIB coloca Brasil nas últimas posições entre 38 países

 



Além do Brasil, outros quatro países ficaram no vermelho no 3º trimestre, conforme os dados da OCDE

A economia brasileira encolheu pelo segundo trimestre consecutivo entre julho e setembro. Conforme os dados divulgados nesta quinta (2/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 0,1% sobre o trimestre anterior, já descontados os efeitos da sazonalidade.

O resultado coloca o país em recessão técnica, observada quando o PIB acumula dois trimestres seguidos de queda, e posiciona o Brasil no fim da lista de países acompanhados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Entre os 38 países que já divulgaram os números do terceiro trimestre, o PIB brasileiro só é maior do que o do México (-0,4%), da Indonésia (-0,6%), do Japão (-0,8%) e da Austrália (-1,9%).

Dois países da América Latina estão no topo da lista, ocupando o segundo e terceiro lugares: Colômbia, com alta de 5,7% do PIB no terceiro trimestre, em relação ao segundo, e Chile, com crescimento de 4,9%, na mesma comparação.

A alta mais forte do PIB colombiano já era esperada, uma recuperação da queda de 2,5% observada no segundo trimestre - esta atribuída, por sua vez, às restrições tomadas naquele período como medidas de controle da pandemia e à onda de protestos que se estendeu por mais de um mês, entre abril e junho.

O crescimento veio, contudo, mais forte do que o apontado pelos modelos estatísticos, e colocou a economia colombiana acima do nível pré-pandemia.

Em relatório enviado a clientes, o economista para mercados emergentes da Capital Economics, Nikhil Sanghani, avalia que o país tem conseguido se recuperar da crise em ritmo mais forte do que os demais da região, e estima crescimento de 9,5% para o PIB de 2021, mais que o dobro da projeção para o Brasil, de 4,5%.

A expectativa para o crescimento do Chile é ainda maior, de 12% no ano fechado. O economista ressalta, contudo, que é pouco provável que o país consiga manter o ritmo de avanço no próximo ano.

Uma das razões é a provável perda de fôlego no consumo doméstico - de um lado, por conta do esgotamento dos efeitos das rodadas de saque nas aposentadorias aprovadas pelo Legislativo e, de outro, por conta do início de um ciclo de aumento de juros pelo Banco Central chileno. No último dia 13 de outubro, a autoridade monetária elevou a taxa básica de 1,5% para 2,75%, o maior aumento em 20 anos, colocado para tentar frear o aumento da inflação.

Em outra frente, ainda de acordo com o relatório, a desaceleração da China também deve ter um impacto relevante para o país, que é um grande exportador de cobre.

Em relação ao Brasil, a expectativa de forma geral de consultorias e instituições financeiras não é de reversão do desempenho fraco observado no terceiro trimestre. A expectativa para o quatro trimestre é novamente de "pibinho" e, para 2022, as estimativas preliminares sinalizam a possibilidade de estagnação e até retração da economia.

O cenário de inflação e juros altos deve continuar impactando negativamente o consumo doméstico, que já vem sofrendo com o desemprego elevado e a retração da renda média mostrados pela Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (Pnad) Contínua.

'Previsões para 2022 seguem sinalizando desempenho fraco da economia brasileira'

O PIB do terceiro trimestre

Entre os números divulgados pelo IBGE nesta quinta, os principais destaques negativos foram a indústria, que ficou estagnada, e a agropecuária, que encolheu 8% em relação ao segundo trimestre.

O resultado da indústria no terceiro trimestre só não foi pior porque a construção civil (um dos quatro subgrupos que compõem o setor dentro do PIB) cresceu 3,9%. A indústria de transformação, que inclui segmentos como calçadista, metalúrgico, eletrônico e químico, contraiu 1% em relação ao segundo trimestre.

O desempenho da agropecuária, por sua vez, surpreendeu negativamente as estimativas. A equipe macro da XP, por exemplo, estimava recuo de 3,3% - bastante inferior à queda de 8% de fato observada.

Em relatório, o economista da XP Rodolfo Margato chamou atenção para o fato de que muitas safras agrícolas sofreram decréscimos significativos no período, entre elas a cana-de-açúcar, o milho, o algodão e o café. Algumas foram bastante afetadas pela seca que marcou 2021 e pelas fortes geadas de junho e julho.

Na esteira da reabertura proporcionada pelo avanço no programa de vacinação no país, o consumo das famílias se recuperou e cresceu 0,9% sobre o segundo trimestre, quando havia recuado 0,2%. Na avaliação de Margato, contudo, o resultado poderia ter vindo ainda melhor, não fosse a trajetória de aumento da inflação.

BBC Brasil