Bruno Boghossian
Folha
João Amoêdo votou em Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018, convencido de que ele seria “um presidente muito ruim”. O empresário diz agora que o governo conseguiu ser ainda pior do que ele imaginava. Numa entrevista à Folha, o ex-presidenciável afirmou que não vai repetir a escolha no ano que vem, mas também se recusa a votar em Lula para derrotar Bolsonaro.
O fundador do partido Novo é um exemplar do eleitor arrependido que rejeita Bolsonaro e está em busca de um candidato alternativo para 2022. Pessimista com a tal terceira via, ele reedita a falsa equivalência que fez sucesso na última disputa e diz que prefere votar nulo se o segundo turno for um confronto entre o atual presidente e o PT.
BRANCO OU NULO – A mais recente pesquisa do Datafolha mostra como se comportam os eleitores que declaram voto em branco ou nulo num embate direto entre Bolsonaro e Lula. Esse grupo alcança a marca de 10% na simulação de segundo turno em que o petista bate o presidente por 59% a 30%.
Muitos desses eleitores são “nulistas” convictos: 25% deles dizem que também anularam o voto no segundo turno de 2018, entre Bolsonaro e Fernando Haddad. Outros 34% são como João Amoêdo, que votou no capitão há três anos. Só 10% afirmam ter votado no candidato petista, e quase um terço diz não se lembrar do voto da disputa passada.
Quase metade desse grupo quer votar nulo já no primeiro turno de 2022. A outra metade abraça candidatos com o rótulo da terceira via na etapa inicial, mas depois vai às urnas para votar em branco ou nulo.
SEGUNDO TURNO – Os eleitores de Sergio Moro são os que mais migram para o voto nulo num segundo turno entre Lula e Bolsonaro: 30% deles não vão com nenhum dos dois candidatos. Entre os eleitores de Ciro Gomes e João Doria, esse índice fica na faixa dos 20%.
O cenário reflete um sentimento antipetista enraizado numa fatia específica do país. Mais de 60% dos eleitores do partido nulo consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, mas não querem votar em Lula.