sexta-feira, dezembro 03, 2021

Brasil de portas abertas para o vírus

 



Anvisa, TCU e cientistas pedem a medida; Europa discute obrigatoriedade

Por Vinicius Torres Freire (foto)

As notícias da nova variante do coronavírus causaram agitação ligeira por poucos dias. Interessam menos do que os cancelamentos de Carnaval. O que se fez a respeito?

A importação de vírus velhos ou novos continua quase livre no Brasil. Anvisa e TCU recomendaram a exigência do passaporte da vacina. Países europeus adotam a vacinação compulsória de seus cidadãos ou começaram a discutir a hipótese.

Aeroportos e portos estão abertos às nações amigas que cobram certificados de vacina de gente que chega do Brasil (e de quem não nos cobra também). A gente não liga muito, talvez nem mesmo se sobrevier nova onda de desgraça. Com a epidemia matando solta, em abril, não se tocou no assunto. Estamos "de boas" com o vírus, afora os parentes e amigos dos mortos e das vítimas de sequelas —de saúde, psicológicas, sociais, assunto para o qual pouco ligamos também.

Nesta quarta-feira, o TCU (Tribunal de Contas da União) recomendou que o governo federal exija certificados de vacinação de quem venha do exterior para o Brasil e que explique o motivo se não o fizer. Houve quem cogitasse no TCU obrigar o governo a impor a restrição, ideia derrubada, ainda bem, porque o TCU não pode governar ou legislar. Mas o TCU fez a coisa certa.

Na semana passada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou que a vacinação contra a Covid-19 se tornasse obrigatória para quem queira entrar no Brasil, o que fez por meio de duas notas técnicas. Por aqueles dias, Jair Bolsonaro queria derrubar as poucas restrições que existem.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a CPI da Covid e agora preside a Frente Parlamentar do Observatório da Pandemia, disse na segunda-feira que apresentaria um projeto para dar peso legal a mais determinações da Anvisa, talvez entre elas diretrizes sobre obrigatoriedade de vacina.

Foi tudo, fora protestos de alguns secretários de saúde e de montes de cientistas e profissionais de saúde, que voltaram a falar ingloriamente sobre o assunto, sobre a necessidade de testes e de rastreamento (quem passou que vírus para quem). Talvez a ômicron faça com que alguns governos estaduais e municipais revejam a liberação do uso de máscaras.

Exigir vacina contra a Covid para entrar no Brasil vai mudar o jeitão atual da epidemia por aqui? Provavelmente não. Pode ajudar a evitar desgraça nova ou atenuar mais influxos de vírus velhos. Não precisamos de mais doentes e mais contaminações —nem que seja apenas um. Precisamos menos ainda de gente tola ou perversa, que não toma vacina de propósito, irresponsáveis que podem ser atraídos para um país de portos abertos para o coronavírus.

Folha de São Paulo