sábado, agosto 28, 2021

‘Esse tipo de gente que quer voltar ao poder’, diz Bolsonaro sobre o protesto das tribos indígenas

Publicado em 28 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet

Presidente Jair Bolsonaro criticou protesto de indígenas Foto: EVARISTO SA/AFP / EVARISTO SA/AFP

Bolsonaro postou mensagem ridicularizando os indígenas

Bruno Alfano
O Globo

O presidente Jair Bolsonaro publicou nesta sexta-feira imagens de um enorme caixão queimado pelos indígenas que se reuniram em protesto contra o “marco temporal”, tese que, se confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vai considerar para fins de demarcação de terras apenas as áreas ocupadas em 1988.

“Esse tipo de gente quer voltar ao poder com ajudado (sic) daqueles que censuram, prendem e atacam os defensores da Constituição Federal e da liberdade”, escreveu o presidente Jair Bolsonaro. Em declarações anteriores, o presidente chamou os índios de “coitados” e disse que eles servem de “massa de manobra”.

JULGAMENTO – Lideranças indígenas vão decidir se permanecem em acampamento até a próxima quarta-feira (1), quando o STF deve enfim julgar o caso, após adiamento nesta quinta. O caixão foi queimado pelos próprios indígenas em sinal de protesto.

Na continuação do julgamento, estão previstas as argumentações de 35 partes interessadas, além dos autores da ação. Ao todo, 84 processos que tratam do mesmo tema estão suspensos e aguardam um desfecho do Supremo. O Globo apurou que Fachin deve levar um voto favorável aos indígenas — que são contrários à tese do marco temporal.

Caixão com mensagens contra o 'marco temporal' foi exibido e em seguida queimado por manifestantes indígenas em Brasília Foto: Cristiano Mariz / Cristiano Mariz

Jair Bolsonaro postou esta foto do protesto dos indígenas

O marco temporal chegou ao STF por meio de uma ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, referente à Terra Indígena (TI) Ibirama-Laklãnõ, onde também vivem indígenas Guarani e Kaingang.

APENAS LEITURA – Após cinco adiamentos, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar nesta quinta-feira (26) a ação sobre demarcações de terras indígenas que discute a tese do “marco temporal”, segundo a qual os indígenas só podem reivindicar terras onde já estavam na data da promulgação da Constituição de 1988. O julgamento, porém, não foi concluído e será retomado apenas na próxima quarta.

Na tarde desta quinta, o relator do caso, ministro Edson Fachin, apenas fez a leitura do relatório — uma espécie de histórico da tramitação do recurso — e não chegou a apresentar seu voto. Em razão do julgamento da autonomia do Banco Central, que dominou quase toda a sessão, o início da discussão ocorreu apenas no começo da noite.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Em 1988, eu trabalha na Manchete e cobria a Constituinte. Fui cobrir uma pauta na Funai e lá encontrei 17 caciques das principais tribos brasileiras, inclusive Davi Ianomami. Eles queriam falar com o cacique-geral, Dr. Ulysses Guimarães, e com o cacique-relator, Bernardo Cabral, mas não conseguiam marcar. E eu lhes disse: “Vocês são caciques. Não precisam marcar. Hoje à tarde eu espero vocês ao Congresso”. Eles marcaram às 15 horas no gabinete do deputado paraense Domingos Juvenil, que até o ano passado era prefeito de Altamira. Levei os 17 caciques para falar com Cabral, que trabalhava escondido num escritório na Gráfica do Senado, e depois com Dr. Ulysses, que fez uma festa. Todas as reivindicações dos caciques foram atendidas e estão na Carta Magna, e eu publiquei uma belíssima reportagem exclusiva na Manchete. Estávamos num tempo diferente, cheio de esperança, em que os indígenas eram ouvidos e respeitados. E eu era feliz e não sabia. (C.N.)