sábado, julho 24, 2021

Prefeitos da Baixada cogitam abandonar Bolsonaro em meio à queda da popularidade

Publicado em 23 de julho de 2021 por Tribuna da Internet

Bolsonaro ao lado de Washington Reis, em 2018, na inauguração de uma escola da PM em Duque de Caxias: prefeitos da Baixada cogitam se afastar do presidente Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo/17-12-2018

Washington Reis apoia Bolsonaro, mas não descarta Lula

Camila Zarur
O Globo

Na eleição municipal de 2020, prefeitos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, foram às urnas apoiados numa aliança com o presidente Jair Bolsonaro. Para o pleito federal no ano que vem, no entanto, o casamento político pode não se manter.

No momento em que a popularidade de Bolsonaro está em queda, principalmente nas áreas metropolitanas e periféricas, os prefeitos pressionam por mais ações do governo federal voltadas para suas cidades.

AINDA É CEDO? – Publicamente, eles afirmam que ainda é cedo para definir apoio a algum presidenciável, embora muitos hoje façam parte da base de Bolsonaro, como Washington Reis (MDB), de Duque de Caxias, e Wagner dos Santos Carneiro (PSL), o Waguinho, de Belford Roxo.

Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 9, a reprovação de Bolsonaro nas regiões metropolitanas é de 53%, dois pontos percentuais maior do que a sondagem geral, que marcou o pior patamar desde o início de seu governo. Já quem aprova Bolsonaro somou apenas 22% nessas regiões, menos do que os 24% vistos na pesquisa em nível nacional.

— Eu acredito que mesmo em queda (de popularidade), o presidente pode se recuperar. Mas para isso é preciso ter ações contundentes. Sem elas, ele começa a inviabilizar sua candidatura. Na eleição do ano que vem, o que vamos ver é que o povo não vai votar em quem não entregou o que prometeu. O povo quer ver ação — afirmou Waguinho, que se reelegeu em primeiro turno no ano passado com uma aliança que unia de bolsonaristas a petistas.

A VOLTA DE LULA – Outro fator que coloca em risco o apoio dos prefeitos da Baixada a Bolsonaro é a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à disputa. Com forte apelo na região, o petista, que já esteve nos palanques de Washington Reis e demais prefeitos da região, aparece à frente do presidente nas pesquisas de intenções de voto. No último Datafolha, Lula somou 44%, e Bolsonaro, 23%.

Além do apoio político dado por Lula em eleições passadas, pesam também para os prefeitos ações durante o governo petista que ajudaram a levar investimentos e inaugurar obras em suas cidades.

Quando Lula esteve no Rio em meados de junho, Washington Reis, que hoje é alinhado com o governo federal, foi visitá-lo. Os dois mantêm uma boa relação. Quando o ex-presidente fez uma caravana antes de sua prisão, em 2018, foi o emedebista quem organizou sua visita ao município, terceiro maior colégio eleitoral do estado.

RELAÇÃO MUITO BOA — “Eu não tratei com ele (Lula) de política não, nem partidária nem política de apoio. Até porque eu não estou credenciado. Eu estou no MDB, que é um partido muito forte. Mas a nossa relação é muito boa. Ficamos conversando mais de uma hora lá. Já lançamos muitas obras juntos aqui em Caxias” — disse Reis sobre o encontro com o ex-presidente.

Para a eleição do ano que vem, o prefeito dá apenas duas certezas: de que apoiará a reeleição do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e de que deixará a prefeitura para concorrer ao Senado. Já quando é questionado se seguirá com Bolsonaro em 2022, ele desconversa:

“O Bolsonaro não é do meu partido, mas eu tenho uma relação muito boa com ele. Passa muita água debaixo da ponte” — diz o prefeito.

IMPOPULARIDADE – Os chefes dos Executivos municipais atribuem a queda de popularidade de Bolsonaro à gestão da pandemia, à inflação alta e ao grande número de desempregados no país.

Prefeito de Nova Iguaçu, quarto maior colégio eleitoral do estado, Rogério Lisboa (PP) afirma que segue a orientação de seu partido, que é aliado do presidente. No entanto, ele mesmo diz que isso pode mudar caso não haja uma reação de Bolsonaro para reverter a situação:

— Se o presidente da República não der uma virada na questão econômica, na questão do emprego, da vacinação, do controle da pandemia e se a percepção não mudar, não tem como manter o apoio da base. Eu tenho uma questão partidária, mas não posso fechar os olhos para a realidade.