domingo, julho 25, 2021

Mourão e Braga Netto esvaziaram o voto impresso e Bolsonaro ficou isolado em sua ameaça

Publicado em 25 de julho de 2021 por Tribuna da Internet

Charge do Iotti (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Em matéria de política, os fatos concretos, como se verifica ao longo da história universal, predominam sobre as versões e primeiras impressões, além de permitirem uma análise transparente baseada na visão não só do fato, mas da percepção quanto ao conteúdo do acontecimento.

Reportagem de Evandro Éboli e Daniel Gullino, O Globo deste sábado, destaca bem a sequência do episódio lançado numa reportagem do Estado de S. Paulo de quinta-feira, publicando uma iniciativa do ministro da Defesa de através de um interlocutor ter pressionado o deputado Arthur Lira, presidente da Câmara, no sentido de conduzir a Casa a aprovar o voto impresso.

AMEAÇA – A mensagem dava andamento aparente à ameaça feita pelo presidente Jair Bolsonaro de que não haveria eleição em 2022 se o sistema do voto eletrônico, instituído em 1996, permanecesse no próximo ano. Tanto Braga Netto quanto Hamilton Mourão negaram que embora sejam favoráveis ao voto impresso, não haveria qualquer pressão neste sentido porque a solução depende exclusivamente do Congresso Nacional.

Os dois generais rechaçaram frontalmente a hipótese de suspensão  das urnas, destacando o respeito à Constituição do país, à democracia e à liberdade, instituições fundamentais. No artigo que publiquei ontem, acentuei que a minha leitura do episódio, depois do desmentido de Hamilton Mourão e Braga Netto, divergia da leitura da reportagem de Julia Chaib, Danielle Brant e Daniel Carvalho, Folha de S.Paulo.

DIVERGÊNCIA – Hoje, registro minha divergência ainda mais da leitura da edição de sexta-feira de O Estado de S. Paulo, publicado em reportagem não assinada, mas que destacava a reação de ministros do Supremo e do senador Rodrigo Pacheco contra a ameaça de Braga Netto.

Ontem, O Globo, ainda a reportagem de Evandro Éboli e Daniel Gullino, destacou.se ainda que na Comissão Especial que analisa o projeto do deputado Filipe Barros, 22 votos foram contrários à proposição e apenas 12 favoráveis. Mas no plenário, pelo que se lê nos jornais, a iniciativa não tem a menor possibilidade de êxito, sobretudo porque trata-se de Emenda Constitucional que necessitaria de 308 votos na Câmara, num total de 513, e de 54 votos no Senado, num total de 81 senadores.

A reação contra o voto impresso incluiu também o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, cujos argumentos, a meu ver, são incontestáveis e confirmados por 25 anos de eleições no país.

PAULO GUEDES  – O presidente Jair Bolsonaro anunciou na sexta-feira que vai recriar o Ministério do Trabalho e Previdência Social, retirando-o da esfera do Ministério da Economia de Paulo Guedes e nomeando para a nova pasta o deputado Onyx Lorenzoni.

Lorenzoni – destaca Geraldo Doca e Manoel Ventura, O Globo deste sábado – já começou a agir porque caberá a ele o controle das aposentadorias pelo INSS, das pensões, do Fundo de Amparo ao Trabalhador e do FGTS. Portanto, os atuais secretários do Trabalho e da Previdência Social, na realidade subministros de Paulo Guedes, serão exonerados, como é lógico que aconteça.

PRESENÇA DO CENTRÃO – Com a nomeação de Lorenzoni para o Trabalho e a Previdência cresce a presença política do Centrão no governo, principalmente ao que se refere à politização que passa a superar o extremo conservadorismo da equipe do atual ministro da Economia.

As correntes que apoiam Bolsonaro vão dirigir seus impulsos, já vitoriosos quanto ao Trabalho e a  Previdência, também para o Ministério do Planejamento. Assim, Paulo Guedes ficará somente com o Ministério da Fazenda. Ele, como disse diversas vezes, acumulava quatros pastas. Geraldo Doca e Manoel Ventura anunciaram também a troca no comando da Dataprev.
 
SELEÇÃO FEMININA  – Na manhã de ontem, a seleção feminina de futebol empatou com a Holanda por 3 a 3. Foi uma boa atuação e um bom resultado, aliás para ambas as equipes que, ao que tudo indica, se classificarão para as quartas de final.

O Brasil esteve melhor do que a Holanda na minha opinião, sobretudo a partir da metade do segundo tempo quando dominou o jogo e demonstrou um estado atlético superior ao do time holandês. A seleção de ouro feminina volta a campo na terça-feira. Enfrenta a Zâmbia em Saitama, enquanto a Holanda tem pela frente a China no Estádio Internacional de Yokohama.

Quando os leitores deste site, que são muitos, começarem a ler este artigo, estarei assistindo a seleção masculina do Brasil contra a Costa do Marfim, a partir das 5h30 da manhã, sintonizado na TV Globo. Aliás, somente a TV Globo, a SportTV e a BandSports transmitem os Jogos Olímpicos de Tóquio.

VITÓRIA NO CAMPO – Podem pensar que a equipe da Costa do Marfim é fraca. Para mim não tem importância tal argumento porque futebol se ganha no campo e eu sou vacinado contra derrotas pois estava no Maracanã em 16 de julho de 1950 e vi o Brasil perder a Copa do Mundo para o Uruguai.

Lembro bem que na véspera, sábado, torcedores na Cinelândia e em bares de vários bairros do Rio comemoravam antecipadamente a vitória. Um absurdo. Não se pode cantar vitória antes do tempo. A condição de favorito não quer dizer nada. O Brasil perdeu em 50. Outro exemplo, a Holanda e o seu famoso carrossel era franca favorita contra a Alemanha na final de 1974. A Alemanha saiu campeã.

PRESSÃO DA NIKE – Em 1998, com a direção da CBF, aceitando a estranha pressão da Nike, escalou Ronaldo Fenômeno apesar de ter sofrido uma convulsão na véspera do jogo. O treinador Zagallo deveria ter resistido pois sabia, como era de conhecimento de todo o time, que Ronaldo não tinha condições atléticas. Resultado: França 3 x 0.

Lembro que, para evitar confusão de datas, quatro anos depois, em 2002, Ronaldo Fenômeno faria os dois gols brasileiros contra a Alemanha, levando o Brasil à conquista da quinta taça do mundo. É o único pentacampeão e o único país a participar de todas as Copas do Mundo desde 1930. Vamos partir, se Deus quiser, para a sexta conquista em 2022. Amém, como lembrava sempre Nelson Rodrigues.

MARCEL PROUST – Eu disse no artigo de ontem que perguntaria à professora Ecila de Azeredo Grunewald, viúva de José Lino Grunewald, em quem votaria como autor do maior romance do século XX. Ela figura entre os intelectuais. Votaria em Marcel Proust por considerar o romance “Em busca do Tempo Perdido” a maior obra literária do século passado.

A pesquisa foi feita em diversos países e venceu “Ulysses”, de James Joyce, cuja primeira tradução brasileira foi feita por Antônio Houaiss. Carlos Heitor Cony me disse que votou em Proust. Ruy Castro também disse que votaria em Marcelo Proust por “Em busca do Tempo Perdido”.