"Força das trevas em ação": mídia da Alemanha destaca ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas, a seca no Pantanal e ações do governo para enfraquecer instituições de proteção ambiental.
"Ao enfraquecer a confiança dos eleitores no sistema eleitoral, ele dá desculpa para contestar o resultado caso perca a eleição"
Der Spiegel – "Força das trevas em ação" (24/07)
O presidente Jair Bolsonaro coloca em dúvida a confiabilidade das eleições no Brasil. [Em entrevista à Spiegel], o cientista político brasileiro Oliver Stuenkel explica o que ele pretende com isso.
Spiegel: Há meses, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro vem semeando dúvidas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas. Entre outras coisas, ele afirma que, sem o uso dessas máquinas supostamente propensas a fraudes, ele teria vencido as eleições presidenciais de 2018 no primeiro turno. O que exatamente Bolsonaro tem a expor?
Stuenkel: Na verdade, não muito, afinal ele mesmo foi eleito várias vezes com essas urnas [eletrônicas]. Acho que ele está interessado em outra coisa, uma espécie de plano B: ao enfraquecer a confiança dos eleitores em nosso sistema eleitoral, ele está dando uma desculpa para contestar o resultado caso perca a eleição presidencial no ano que vem.
Spiegel: Como os apoiadores dele lidam com isso?
Stuenkel: Muitos veem supostamente forças das trevas em ação com interesse em manipular eleições: globalistas, chineses, ONU e George Soros. Aos seus olhos, são as mesmas pessoas que supostamente roubaram a vitória eleitoral de Donald Trump e agora têm como alvo o Brasil.
Spiegel: Depois da invasão do Capitólio, em Washington, Bolsonaro disse que a situação em Brasília poderia ser pior. Até que ponto isso deve ser levado a sério?
Stuenkel: Muito sério, eu acho. Bolsonaro não foi apenas um dos últimos chefes de Estado do mundo a parabenizar Joe Biden [pela vitória nas eleições americanas]. Para espalhar a lenda de Trump sobre a eleição roubada entre seus apoiadores, ele até aceitou consequências negativas para as relações entre Brasil e EUA.
Spiegel: Neste momento, o ex-presidente Lula está claramente à frente em todas as pesquisas eleitorais. Suponhamos que Bolsonaro realmente perca as eleições no próximo ano, o que poderá acontecer depois?
Stuenkel: Uma cópia dos eventos em Washington ainda seria o melhor dos casos. Mas também pode haver muito mais violência, envolvendo policiais militares e militares. Mesmo generais moderados poderiam apoiar isso, e as consequências seriam incalculáveis
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