sábado, maio 29, 2021

Governo caótico, inflação e falta de vacinas ofuscam o bom desempenho das empresas

Publicado em 29 de maio de 2021 por Tribuna da Internet

Governo extrativista

Charge do Kap (Arquivo Google)

Marcos de Vasconcellos
Folha

As empresas com ação em Bolsa ganharam mais dinheiro no primeiro trimestre deste ano do que no do ano passado. Vale a pena destrinchar os números, cenários e períodos para tentar entender o que vem pela frente. As receitas das companhias listadas aumentaram 30% na comparação anual, e o prejuízo de R$ 50 bilhões registrado nos primeiros três meses de 2020 virou lucro líquido de R$ 77 bilhões.

Por mais que pareça que estamos nessa pandemia há uns 15 anos, é importante ter a linha do tempo clara para notar que o coronavírus não era um problema para a economia nacional até o fim de fevereiro do ano passado.

HORA DO PÂNICO – O primeiro grande tombo da Bolsa brasileira causado pela Covid-19 foi em 26 de fevereiro. Ou seja: com praticamente 2/3 do trimestre percorridos. E foi perto desta data que as empresas começaram a fechar portas, suspender contratos e afastar funcionários.

Chegou a era do home office que parece não mais ter fim, do comércio de portas fechadas, dos shoppings e supermercados vazios. Com idas e vindas de restrições, a impressão que se tem é que o mundo parou. O que está longe de ser verdade.

Em meio a mortes, demissões, inflação, as empresas brasileiras conseguiram produzir mais. A atividade econômica cresceu 1,6% no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Monitor do Produto Interno Bruto (PIB), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

MAS HOUVE QUEDA – O consumo das famílias, por outro lado, diminuiu 1,2%, também na comparação anual. Quando dividimos por setores, é possível identificar crescimento apenas no consumo de produtos duráveis (significativos 8,2%).

O grande impulsionador aumento das receitas das empresas com ação em Bolsa foi o setor das commodities. Receitas atreladas ao dólar (já que somos grandes exportadores de commodities) e à alta do minério de ferro, que rendeu grandes somas à Vale e a siderúrgicas, deram o boom dos ganhos no trimestre.

A receita das companhias com atuação doméstica também subiu, mas pouco mais de 15%. E foi puxada principalmente pelos bancos.

VEJA O QUE CAIU – Dos 24 setores não financeiros, apenas três tiveram prejuízo no 1º trimestre de 2021: transportes e serviços, com R$ – 4,50 bilhões; telecomunicações, com R$ – 2,33 bilhões; e veículos e peças com R$ – 138 milhões, aponta um levantamento feito pela Economatica, empresa que reúne dados de mercado.

De acordo com documento divulgado pelo BTG Pactual, 48% das empresas reportaram resultados melhores do que o esperado pelo banco no primeiro trimestre deste ano.

Enquanto 11% tiveram desempenho mais fraco que o esperado. O resultado no setor privado parece escantear de vez o sugerido dilema de que seria preciso sacrificar a saúde para salvar a economia.

CONJUNTURA ADVERSA – O bom resultado da economia real parece destoar das perspectivas apontadas por analistas gráficos em relação à Bolsa, que destaquei aqui, nesta coluna. Parte disso se deve à dificuldade de fazer previsões sobre o caminho de um país cujo presidente é alvo de uma CPI, o ministro do Meio Ambiente está na mira de uma alardeada operação contra a corrupção, o avanço das vacinas é recheado de incertezas e a inflação volta a abocanhar salários com apetite voraz.

Momentos de insegurança como esse acabam descolando a visão dos investidores estrangeiros (com enorme representatividade no nosso mercado) e o entendimento de quem acompanha as empresas de perto e podem trazer boas oportunidades no mercado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Conforme temos destacado aqui na Tribuna, o Brasil é muito maior do que esse patético governo paramilitar e também muito maior do que a crise. Mas os governantes, políticos e economistas sempre encontram alguma maneira de atrapalhar. (C.N.)