Carlos Newton
O primeiro pacto entre os três Poderes foi um sucesso total para os políticos e empresários envolvidos em atos de corrupção. Como num passe de mágica, o Pacote Anticrime do ministro Sérgio Moro foi substituído no Congresso pela Lei do Abuso de Autoridade, para amedrontar juízes, procuradores e delegados.
Com isso, o presidente Bolsonaro deu um grande passo para blindar os filhos e ele próprio, enquanto Lula da Silva, José Dirceu e outros corruptos eram libertados. Ou seja, o pacto pela impunidade funcionou à perfeição, como uma máquina de lavar dinheiro e reputações.
MULHERES DE MINISTROS –Todos sabem a história do primeiro pacto. Começou muito antes da eleição, em maio de 2018, quando um relatório da Receita Federal citou a advogada Guiomar Mendes, mulher do ministro Gilmar, por ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
A mesma investigação apanhou na malha fina a advogada Roberta Rangel, mulher de Dias Toffoli, e em julho de 2018 surgia o escândalo de que a ela dava uma mesada de R$ 100 mil ao marido, que não declarava ao IR e usava R$ 50 mil para pagar a pensão da primeira mulher, vejam a que ponto chegamos.
Ou seja, em 2018, Gilmar e Toffoli necessitavam desesperadamente desse pacto com o Executivo para evitar o prosseguimento das investigações da Receita.
ANTES DA ELEIÇÃO – O entendimento foi proposto pelo então presidente do Supremo, Dias Toffoli, antes do segundo turno da eleição de 2018, não importava quem ganhasse, pois o PT precisava mais do pacto do que Bolsonaro, já que Lula e Dirceu estavam presos.
Toffoli voltou ao assunto após a eleição de Jair Bolsonaro e fez nova carga na sessão de abertura dos trabalhos do Congresso, em 1º de fevereiro de 2019. Em 28 de maio de 2019, com a tese já amadurecida, o presidente recebeu para um café-da-manhã no Alvorada o ministro Dias Toffoli e os presidentes de Câmara e Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.
Nascia assim o pacto da impunidade, que soltou Lula e Dirceu, destruiu o Pacote Anticrime de Moro e terminou com os problemas das famílias Toffoli e Mendes.
BOLSONARO MELOU TUDO – O pacto acabou se dissolvendo por culpa do próprio presidente, que infantilmente deu força a manifestações antidemocráticas contra o Congresso e o Supremo em abril de 2020.
Com a troca de comando na Câmara e no Senado, agora em 2021, Bolsonaro usou a caneta e a chave do cofre para refazer o pacto com o Congresso, mas teve como incluir o Supremo, presidido por Luiz Fux.
Agora, o impeachment de Bolsonaro pode até sair através do Supremo, num dos quatro inquéritos a que ele está respondendo: fake news, atos antidemocráticos, interferência na Polícia Federal e atuação da Abin em defesa de Flávio Bolsonaro.
GABINETE DO ÓDIO – Os dois primeiros inquéritos estão concluídos e incriminam o “gabinete do ódio”, instalado no terceiro andar do Planalto, ao lado da sala de Bolsonaro. Portanto, logo saberemos se o relator Alexandre de Moraes terá coragem de processar o presidente da República, ou vai passar um pano nessa emporcalhação…
A verdade é que ninguém aguenta mais tanta ignorância, tanto despreparo, tanta desfaçatez, tanto despudor, tanta falta de educação. Realmente, chega! Deveriam dar uma chance de o vice Mourão mostrar serviço.