sábado, abril 03, 2021

Contestado pelas ações e pelas palavras de Bolsonaro, Queiroga deve se demitir imediatamente

Publicado em 3 de abril de 2021 por Tribuna da Internet

Bolsonaro incita população a não seguir recomendações de Queiroga

Pedro do Coutto
 
O presidente Jair Bolsonaro vem assumindo posições e feito afirmações extremamente opostas às recomendações do ministro Marcelo Queiroga para combater a pandemia da Covid-19 que apresenta índices diários muito altos de novas contaminações.

 De quinta para sexta-feira foram 89 mil infectados pelo coronavírus, resultado em grande parte das aglomerações de pessoas, da falta do uso de máscara e do desrespeito em relação à necessidade de distanciamento.

MAU EXEMPLO – Matéria de Bruno Góes e Fernanda Trisotto, O Globo de ontem, revela que, em transmissão pelo sistema da internet, Bolsonaro afirmou que ainda não sabe se tomará a vacina e que vai esperar até o último brasileiro ser vacinado para então decidir o que fará. Tal afirmação, evidentemente, se reflete na população, fazendo com que uma parcela não siga as recomendações do ministro Marcelo Queiroga que colocou a vacinação e o uso da máscara como pontos fundamentais para combater e frear os efeitos da pandemia.

 Em artigo publicado na sexta-feira pela Folha de São Paulo, Ruy Castro destaca que Bolsonaro não leva em conta a opinião de qualquer ministro civil, incluindo Queiroga, cujo constrangimento é muito grande levando-se em consideração que as palavras do presidente da República o deixam muito mal, sobretudo diante das classes dos médicos e cientistas.

DEMISSÃO – Marcelo Queiroga não tem outro caminho, a meu ver, a não ser o de entregar imediatamente o cargo de titular da Saúde. Como se constata, nenhum ministro acerta trabalhar com Bolsonaro na pasta.  

Além dessa contradição, O Globo revela, com base em dados do SUS, que até o final de março o governo tinha previsto a entrega de 46 milhões de vacinas, entretanto só distribuiu 20 milhões para os estados. Queiroga chegou a anunciar que pretendia alcançar o ritmo de vacinação na base de 1 milhão de pessoas por dia. Difícil chegar a tal montante sem que o governo distribua um número desejado para vacinação em massa.

MERCADO DE TRABALHO – No espaço de O Globo que ocupa às sextas-feiras, Flávia Oliveira chama a atenção para um ponto muito importante a respeito do mercado de trabalho brasileiro. Da mão de obra ativa de 100 milhões de pessoas, apenas 29,7 milhões são empregados com carteira assinada. Portanto, tanto eles quanto seus empregadores contribuem para o INSS.

Os empregadores contribuem para o FGTS na base de 8% sobre os salários. Como se vê, a informalidade está se expandindo veloz e largamente. E a informalidade não produz receitas nem para a Previdência Social, nem para o Fundo de Garantia. O governo quando pensa, digo eu, em promover demissões voluntárias, não leva em conta que para cada trabalhador ou trabalhadora que sai do universo formal, diminuiu a arrecadação do próprio governo.

ALUGUÉIS DISPARAM  – Em reportagem publicada na Folha de São Paulo de quarta-feira, Fernanda Brigatti expõe a fortíssima subida do IGPM no período entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Somente em 12 meses, o índice calculado pela FGV avançou 31,1%, criando uma situação de verdadeiro alarme social.

Isso porque o IGPM, de acordo com a lei, corrige os aluguéis residenciais. Os locatários assim se encontram numa onda que ao mesmo tempo corrige os aluguéis e congela os salários.

PLANOS DE SAÚDE – Camila Tortelli, no Estado de São Paulo de quinta-feira, publica reportagem informando que o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, tornou oficial a verba de R$ 135 mil para cobrir os gastos de saúde dos deputados. Parece incrível, mas é fato que, enquanto sobem os remédios e as consultas médicas para pelo menos 80% da população brasileira, cada deputado vai receber R$ 135 mil para as despesas com saúde.

As despesas tanto podem ser para compras de remédios, como para consultas e até procedimentos cirúrgicos. Os assalariados brasileiros recebem um tratamento muito diferente. Os preços dos remédios poderão subir até 10% a partir deste mês de abril, mais um fator para tornar sufocante o quadro social do país.

SONY E SOM LIVRE – O próprio O Globo publicou com destaque o fato da Sony Music e a Som Livre, empresa independente de música, da Globo Comunicação e Participações S.A, terem fechado acordo para transferir a propriedade para empresa internacional. Há alguma coisa crítica no universo financeiro liderado pelo jornal O Globo, pela TV Globo, pela Globo News e outras empresas de Comunicação.  

Vale acentuar inclusive que a TV Globo já tornou pública que não renovará com o apresentador Faustão, cujo contrato termina no fim de dezembro deste ano. Tem-se a impressão de que Fausto Silva, a partir de 2022, estará no SBT, segundo informações que circulam.

Aliás, no programa do último domingo, Faustão recebeu o ator Otaviano Costa e a atriz Flávia Alessandra. O casal está obtendo sucesso na área comercial ao fazer a propaganda do supermercado Mundial. Na ocasião, Otaviano Costa disse no ar ser muito grato a Faustão pelo apoio recebido no início da carreira e que irá para onde Faustão for, se assim conseguir. O programa que é um sucesso na Globo ajusta-se ao estilo da programação da emissora de Sílvio Santos.

ENTREVISTA DE LULA –  Entrevistado pela Band News, Lula afirmou que não assinou o manifesto em defesa da democracia divulgado na quarta-feira porque não foi procurado e lamentou o fato, como também lamentou a falta de apoio nas eleições de 2018 para Fernando Haddad, inclusive de Ciro Gomes, que resolveu após o 1º turno viajar para Paris. Lula acentuou que Bolsonaro deveria parar de falar apenas com os seus militantes e passar a se dirigir com responsabilidade aos 210 milhões de brasileiros.  

A candidatura de Lula se fortaleceu a partir do momento em que foi beneficiado pela decisão da 2ª Turma do STF que anulou as condenações impostas ao ex-presidente por Sergio Moro.  A respeito da situação eleitoral de Lula, a jornalista Cristina Serra publicou artigo semana passada na Folha de São Paulo criticando o ministro Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, estranhando a mudança de voto da ministra Cármen Lúcia que foi decisiva para o desfecho contra a sentença relativa ao triplex do Guarujá.

EXPECTATIVA – Peço, entretanto, atenção para um ponto essencial da questão: o relatório do ministro Edson Fachin remetido ao pleno do STF, abrangendo assim os 11 ministros. A decisão de Cármen Lúcia pode tornar possível a confirmação pelos 11 ministros da Corte Suprema. Vale acentuar que o ministro Dias Toffoli, nomeado por Lula, deve dirigir seu voto em favor do ex-presidente, sobretudo porque existe uma forte expectativa de que Lula retorne ao poder.

Luiz Inácio Lula da Silva possui a maior parcela dos votos do país, tendo transferido 43% do eleitorado para Fernando Haddad. Bolsonaro venceu por 57% a 43%, mas a realidade era outra muito diversa da atual.