Pedro do Coutto
Numa entrevista a Camila Mattoso, Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, afirmou ter recebido uma indagação do ministro Ricardo Salles sobre uma apreensão de 200 mil metros cúbicos encontrados no Pará, tudo que foi apreendido desde dezembro do ano passado.
Alexandre Saraiva diz ter recebido com surpresa o questionamento de Ricardo Salles, pois pela primeira vez um ministro do Meio Ambiente se manifesta de maneira contrária a uma ação que visa proteger a Floresta Amazônica.
VERIFICAÇÃO DE APREENSÃO – O ministro Ricardo Salles foi na quarta-feira, dia 30, ao Pará, onde fez uma espécie de verificação do que foi apreendido, assinalando preocupação com o resultado de uma apreensão da própria Polícia Federal. Salles apontou falhas na ação e tem dito que há elementos para achar que as empresas investigadas estão com a razão.
Alexandre Saraiva se espantou e disse a Camila Mattoso, na entrevista, que o ministro do Meio Ambiente se preocupar com tal fato, a ponto de dizer que as empresas acusadas tinham razão em desmatar seria a mesma coisa “que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”.
AÇÃO CRIMINOSA – Saraiva destaca que tudo que foi apreendido era produto de ação criminosa, inclusive porque no caso dos 200 mil metros cúbicos de madeira, as empresas atingidas até agora não recorreram contra o fato. Saraiva disse que há mais de dez anos ocupa o cargo de superintendente na Amazônia, abrangendo Roraima, Maranhão, Amazonas e Pará. Os desmatamentos configuram ações criminosas e, portanto, têm que ser objetos de reação por parte da Polícia Federal e do governo brasileiro.
Saraiva acrescentou que na Polícia Federal “não vai passar nenhuma boiada”, frase que Ricardo Salles se referiu durante a reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando se dirigiu ao presidente Jair Bolsonaro: “Vamos aproveitar o momento que a imprensa está voltada para a pandemia para fazer passar a boiada”, disse na ocasião.
NA ORDEM DO DIA – O tema, como todos sabem, está na ordem do dia vinculado ao aquecimento global e à proteção do meio ambiente. Inclusive, Jair Bolsonaro foi convidado pelo presidente Joe Biden a participar de encontro internacional pela internet sobre as queimadas e os desmatamentos não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Este é um panorama geral do que acontece na Amazônia brasileira e é um bom tema para o jornalista André Trigueiro, comentarista da GloboNews, especializado na questão que envolve a defesa do verde no Brasil.
ALIANÇA – Na edição de ontem de O Globo, o repórter Gustavo Schmitt revela que começaram as articulações e os entendimentos no sentido de que o Centro, distanciado do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula, consiga formar uma aliança e escolher um candidato para que não se repita a polarização que ocorreu nas urnas de 2018.
Estão empenhados no projeto, além de Ciro Gomes, o governador João Doria, o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, o apresentador da TV Globo, Luciano Huck, o empresário João Amoêdo e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta. As articulações incluem também o deputado Rodrigo Maia e o prefeito Eduardo Paes.
Para o professor Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas, a ideia é boa, mas a presença de Ciro Gomes no movimento pode criar obstáculos. Em decorrência da sua própria personalidade e também do fato de que, de todos dessa iniciativa, é o mais distante do ponto de vista ideológico que seus integrantes têm da economia, uma vez que Ciro Gomes tem o pensamento voltado para ação estatal no desenvolvimento econômico e social brasileiro.
CALENDÁRIO APERTADO – Grin diz que o calendário já está apertado e que o melhor caminho para o movimento é lançar-se publicamente no mês de outubro, um ano antes das eleições de 2022. “Há que se ter pressa, já que a polarização aumenta a cada dia”, disse.
Entretanto, na minha opinião, João Doria e Eduardo Leite vão encontrar dificuldades de se integrar no movimento. Isso porque com o lançamento da candidatura de Lula, os dois governadores logicamente vão disputar a reeleição em São Paulo e no Rio Grande do Sul apoiando uma candidatura presidencial, sendo que João Doria não poderá optar por Jair Bolsonaro.
No Rio de Janeiro, o deputado Marcelo Freixo, matéria de Bernardo Mello, afirmou ter iniciado articulações para formar uma chapa contra o candidato que vier a ser lançado por Bolsonaro. Trata-se, disse, de uma união das forças democráticas contra o atual presidente da República que representa uma ameaça à própria democracia.
DÍVIDAS – Idiana Tomazelli, o Estado de São Paulo de ontem, revela em sua reportagem que as dívidas das igrejas evangélicas com o INSS e o Imposto de Renda já atingem R$ 1,9 bilhão. Uma parte, inclusive, está inscrita na Dívida Ativa da União. Em alguns casos, como é o caso da corrente do bispo R. R. Soares, foram efetuados descontos nos salários, mas não houve recolhimento ao INSS. Idiana Tomazelli acentua que nesse caso existe o crime de apropriação indébita.
As dívidas das igrejas incluem também o não recolhimento da parte que cabe aos empregadores (20% sobre a folha de salários) e também o não recolhimento, como ela frisou, das contribuições dos empregados.
Até o momento, pela lei, a contribuição de religiosos para com os templos estão sujeitas à incidência das contribuições para a Previdência Social. O secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neves, já desenvolveu diálogos com os devedores. Além da contribuição patronal, os empregados têm a obrigação de contribuir para o INSS à base de 7,5 % para os salários menores até 14% para os salários de R$ 6,4 mil.