segunda-feira, abril 05, 2021

Bolsonaro, se for candidato, pode não ir ao segundo turno nas urnas de 2022

Publicado em 5 de abril de 2021 por Tribuna da Internet

Insatisfação com o governo Bolsonaro é grande e cresce a cada dia

Pedro do Coutto

O presidente Jair Bolsonaro tem pela frente dois obstáculos que terá que superar para tornar viável a sua candidatura à reeleição nas urnas de 2022: a falta de estabilidade do seu governo e a perspectiva – revelam Pedro Venceslau e Bruno Ribeiro, no Estadão de sábado, dia 3 – de que o PSDB, o DEM e o MDB estão se aproximando para firmar uma aliança capaz de disputar o pleito daqui a um ano e meio.

A afirmação foi feita pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto que sustentou a necessidade do surgimento de uma terceira força capaz de abrir a perspectiva de um candidato entre Lula e o atual presidente da República. Esta é uma questão essencial para fornecer uma oportunidade às forças que se consideram de centro em busca de um nome viável com potencial político para enfrentar uma batalha difícil, mas não impossível.  

LIMINAR DE FACHIN – A meu ver, Lula está assegurado no segundo turno de 2022 dependendo apenas do julgamento pelo Supremo, da liminar de Edson Fachin que anulou todas as condenações contra ele fixadas em Curitiba, por Sergio Moro. Na reunião mais recente da Segunda Turma, foi anulada a condenação do triplex devido a imparcialidade de Moro, por três votos a dois. Mas este foi um julgamento.

Para o segundo julgamento o debate será baseado na anulação ou não de todos os processos contra o ex-presidente, e o resultado favorável conta com os votos, é claro, de Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.

O voto da ministra Cármen Lúcia no julgamento da Segunda Turma foi para viabilizar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Para mim ficou claro, uma vez que a tese do ministro Edson Fachin é de anulação das sentenças, transferindo o julgamento para a Justiça Federal de Brasília. A habilitação de Lula traz consigo um impulso no STF para neutralizar ações de extremistas contra o próprio Supremo e o Congresso Nacional.

GRANDES CHANCES – Lula, de todos os nomes, é o que maior contingente de votos possui. Basta lembrar que em 2019 ele transferiu 43% do eleitorado para Fernando Haddad. Pedindo voto para si mesmo, Lula poderá até ultrapassar esse percentual. Admito até que ele possa vencer direto no primeiro turno, já que a insatisfação com o governo Bolsonaro é muito grande e cresce a cada dia. Basta ler as cartas de leitores publicadas no O Globo, na Folha de São Paulo e no Estadão.

Pode-se também considerar as reportagens e comentários da imprensa, nas redes sociais da internet, nos programas de televisão, sobretudo da GloboNews. Por aí vemos o grau de rejeição ao governo. Dificilmente, Jair Bolsonaro poderá se recuperar. Ele se mantém numa posição política nada flexível.  

FRACASSOS DE GUEDES – Miriam Leitão, no espaço de sua coluna no O Globo, afirmou frontalmente que o governo acabou e apenas permanece sem apresentar fatos e disposições que o reanimem. Foi um artigo importante. Na síntese reflete tantos fracassos do ministro Paulo Guedes quanto a desarmonia nas bases do Executivo, agora também no Congresso através de posições explicitadas até pelo Centrão. Natália Portinari focaliza o tema no O Globo deste domingo e destaca o sintoma como início de um processo de desgaste dentro das próprias bancadas do governo no parlamento.

Outro fato que deve preocupar o Planalto está contido também no O Globo, reportagem de Bernardo Mello, Filipe Vidon e Rayanderson Guerra. Trata-se de incitamento por parte de lideranças de baixa patente das PMs sobre as tropa contra governadores adversários do Palácio do Planalto. O confronto visa medidas restritivas para tentar conter a pandemia, que foram adotadas por estados comandados por opositores de Jair Bolsonaro. Mais um setor, cujo movimento acrescenta intranquilidade ao panorama institucional do país.  A confusão é muito grande.

IMPASSE – Adriana Fernandes, no Estado de São Paulo, reproduz declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação  ao impasse que ocorre sobre o Orçamento para 2021. Na opinião de Campos Neto, a dificuldade entre o Legislativo e o ministro Paulo Guedes agrava a incerteza fiscal.

Um dos reflexos do panorama confuso que está se projetando na área econômica está assinalado por Júlia Moura e Eduardo Cucolo, na Folha de São Paulo de ontem. Um elenco de empresas listadas na Bovespa reduziram os seus investimentos de forma considerável. A redução decorre da falta de nível de consumo, já que ninguém pode produzir somente para estocar.

RETRAÇÃO NO CONSUMO – Tudo, inclusive a arrecadação tributária, depende, direta e indiretamente, dos níveis de consumo, da mesma forma que as receitas do INSS e do FGTS. A retração do consumo é uma consequência direta do alto nível de desemprego e do congelamento de salários que estão fazendo com que a renda do trabalho humano seja reduzida mês a mês pelas taxas oficiais de inflação.  

Esta colocação representa um desafio do governo para consigo mesmo.  Um desafio para Jair Bolsonaro no caminho das urnas de 2022. Por isso não será uma surpresa se ele não for ao segundo turno da sucessão presidencial, sucessão de si mesmo.